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Nosso voto foi mesmo de mudança, ou foi de raiva?

Faltam seis dias para sabermos como o Brasil ficou. Falta saber, oficialmente, quem será o presidente e quais serão os governadores dos 14 estados, incluindo o Distrito Federal, que deixaram para decidir em segundo turno. O Senado, a Câmara Federal e as Assembleias já conhecemos. Até aqui a sensação é de que um tsunami varreu a política nacional. Até aqui o que se sabe é que teremos muitas novidades a partir do próximo ano. Novidades, o que não quer dizer novo. Numa primeira olhada, o que se nota é que o brasileiro votou com o desejo de mudar, pouco se importando se para melhorar ou piorar o nível da nossa política. Votamos com a indignação, sem qualquer preocupação com a razão. Sem entrar no mérito da qualidade dos eleitos, fica difícil explicar, por exemplo, os mais de duzentos mil votos da policial militar de São Paulo que, reagindo a um assalto, matou um homem diante de uma escola infantil. Tornou-se celebridade, foi cooptada por um partido, lançada candidata a deputada federal e em sua campanha usou, a exaustão, a imagem do fuzilamento. Em fevereiro assume seu mandato. Em Minas um apresentador de televisão foi eleito deputado estadual com mais de quinhentos mil votos, marca que nem jogadores de futebol famosos e locutores esportivos conhecidos, que também se elegeram, sonharam alcançar. Nunca se elegeu tantos delegados e militares, inclusive generais raivosos, como agora. Há outras espécimes raras eleitas e outras a serem eleitas no domingo. Olhando os eleitos é inevitável se perguntar qual o critério usado pelo eleitor para promover a propalada renovação. Usamos o voto como instrumento de mudança, de vingança, ou brincamos com ele em nossas escolhas? Sem querer fazer prognósticos sombrios, ser ave de mau agouro, mas sendo realista apenas, dá para afirmar que não vai dar certo. É tão profundo o buraco em que nos metemos, que já seria impossível sair dele com escolhas eleitorais racionais. Escolhas irracionais só complicam a situação e, pior, abrem um enorme campo para radicais e aproveitadores explorarem a desilusão popular na próxima eleição. É assim que as coisas funcionam. Sabemos bem disto. Passamos assim a adiantar, em pelo menos quatro anos, nossas preocupações. Não se vislumbra na atual safra política qualquer figura com o mínimo de cacoete para liderar um povo. Vivemos época de terra arrasada neste campo. Fizemos uma boa faxina, é verdade, mas também não cuidamos de plantar algo para colhermos um pouco mais à frente. Há quem concorde e há quem discorde de minha tese, mas acredito que nosso maior problema nem é a corrupção. Nosso maior problema é a falta de líderes políticos de verdade. Gente altruísta, mas enérgica, de moral ilibada e que tenha coragem de conversar com o povo francamente, sem falsas promessas. Gente como Churchill, que teve a coragem de dizer ao povo inglês, em discurso ao ser escolhido primeiro ministro para organizar a resistência ao avanço da Alemanha, que só tinha a oferecer “sangue, sofrimento, lágrimas e suor”. É isto que nos espera nos próximos anos. Tomara, encontremos a sombra de um Churchill para nos guiar.

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