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Ainda vamos conseguir viver sem dor

A dor é entendida nos meios médicos como uma experiência sensorial ou emocional desagradável, que ocorre em diferentes graus de intensidade, do desconforto à agonia. De qualquer forma em que o tema é explorado, a sensação é uma só: horrível. Como viver sem dor? O médico Carlos Gropen Júnior, da UNB, especialista no tema, entende que a dor é um mecanismo de defesa do organismo, mas alerta que toda dor tem um forte componente emocional. O difícil é passar a vida sem senti-la. Impossível não é com a tecnologia disponível atualmente, e é sobre esses avanços que Gropen tem se debruçado para desvendar as causas e encontrar as alternativas de tratamentos para os casos crônicos e para as dores que afetam a maior parte da população.

 

O que a dor, por que as pessoas sentem dor?

A dor é um mecanismo de defesa do organismo. Nós sentimos dor como um indicativo de alerta de que existe alguma coisa errada. Por exemplo: quando estamos andando e pisamos em um caco de vidro ou um prego, se não tivermos a dor como um mecanismo de alerta, nós vamos ter uma lesão muito grave e até morrer, se não houver um mecanismo para mostrar que o organismo está sendo agredido. É um mecanismo que acaba funcionando como um estímulo que, por ser desagradável, faz com que rejeite aquele estímulo. Essa dor é chamada de dor aguda, que tem um motivo evolutivo. Uma pessoa com dor, mesmo sem um estímulo, nós chamamos de dor crônica, ou seja, é uma dor que quando não tem mais um objetivo de avisar o paciente. É uma questão de termos um problema ou efeito no mecanismo de controle da dor.

 

Por que algumas pessoas sentem menos dor ou não sentem nenhuma dor?

Temos mecanismos normais no organismo para evitar que a dor seja muito incômoda. Uma pessoa que tira os fios da sobrancelha com pinça pode sentir dor nas primeiras vezes, depois, o organismo suprime a dor. A pessoa não sente mais dor fazendo o mesmo procedimento. Esse é um mecanismo natural para que, quando organismo for agredido, ele poder sentir o efeito de que é necessário fazer alguma coisa sem que a dor atrapalhe na forma dela agir. Existe um mecanismo de dor e um de controle da dor. Enquanto houver agressão ao tecido, a dor continua. Passou a agressão, a dor cessa. Tem pessoas que acabam desenvolvendo uma dor crônica, quando os mecanismos de controle da dor estão alterados. A partir de três meses, geralmente, nós temos a dor crônica, a pessoa fica muito tempo sentindo, o estímulo é muito persistente, os mecanismos de controle acabam sendo combatidos e a pessoa acaba, com o tempo, tendo dor independente de estímulo, como é o caso da pessoa que tem fibromialgia e dos que tem dor neuropáticas.

 

O senhor desenvolveu alguns estudos na língua russa, qual é esse trabalho desenvolvido pelo senhor?

Eu fiz muitos estudos em russo de analgesia e de aparelhos usados lá para melhora da dor. Estudei bastante esses mecanismos através desses aparelhos, que nós não tínhamos aqui tão desenvolvido. Eu faço parte da Academia Americana de Medicina Regenerativa, que é uma sociedade que busca o controle da dor através da regeneração dos tecidos. Por exemplo: o joelho está com problema? Nós vamos fazer a cartilagem do joelho melhorar a sua qualidade. O tendão está quase rompido? Nós tentamos usar células tronco ou substâncias que ajudam a recompor.

 

É possível uma pessoa passar a vida inteira sem sentir dor?

É possível sim. Nós evoluímos muito no tratamento da dor nos últimos 10 anos. Pessoas que tinham diagnóstico muito grave, com a ajuda de técnicas, elas conseguem melhorar muito. Só que nem todo mundo alcança essa melhora. Mas evoluímos muito. Nós temos um grupo na UNB, que é um grupo de tratamento de dor, mas não vemos muito dessas técnicas na rede pública.

 

A dor é mais física ou mais emocional?

Toda dor tem um componente emocional. A dor passa pelo sistema físico e tem alguns circuitos emocionais. Isso já foi descrito há muito tempo por Ronald Osaka, que é uma das pessoas mais importantes no mundo na área da dor. Ele mostra que a dor tem um componente emocional associado. O importante da dor crônica associada é que a dor acaba deixando a pessoa com a capacidade intelectual mais baixa. A pessoa pode perder a capacidade de raciocínio de matemática, a capacidade de raciocínio lógico, a pessoa pode ter várias alterações cognitivas e emocionais por causa da dor. A ansiedade é muito prevalente e a depressão também. Não necessariamente só pela reatividade da dor, mas por mecanismos neurais endógenos.

 

Existe uma dor que é considerada a pior das dores?

Talvez a pior dor seja central. Uma dor que domina o cérebro. É uma dor causada por um derrame em uma região do cérebro chamada tálamo. É a chamada dor talâmica e essa é considerada uma das piores dores. É uma dor misturada com choque ao mesmo tempo.

 

Como é esse seu trabalho em relação a dor?

Nós temos um grupo multidisciplinar no ambulatório da UNB, com vários pacientes. Temos uma equipe de fisioterapia, uma que cuida dos equipamentos. Nós fazemos programas com algumas versões para orientação em relação a dor e o uso de aparelhos para aliviar a dor. Nós treinamos a pessoa para fazer os conceitos em casa para aliviar a dor. São técnicas. Ainda tem a psicologia que faz a parte de meditação, de enfrentamento, a fisioterapia, os procedimentos guiados por ultrassom, com anestésico, analgésico, usamos a medicina regenerativa, são várias técnicas. Fazemos a avaliação e traçamos um plano para cada paciente.

 

A fibromialgia é uma dor que afeta muitas pessoas. Como tratar dessa doença?

Essa é uma doença muito comum e tem um estudo que mostra que existe um tipo de paciente que tem mais elasticidade, que tem dores semelhantes a da fibromialgia, mas que precisam ter um outro tipo de tratamento. Essas pessoas chegam a 35% das que sofrem da fibromialgia. A fibromialgia é como se fosse um conjunto de doenças como se fosse a dor crônica. Muitas vezes a pessoa pode ter outras causas e pode melhorar com tratamentos específicos que não são necessariamente para a fibromialgia, como por exemplo, a dor miofacial, que afeta 88% das pacientes com fibromialgia. Pode ter a hipermobilidade, que é uma dor comum para quem tem fibromialgia, que também tem um tratamento específico, que passa por um psicólogo, fazer a fisioterapia e o tratamento da dor.

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