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Dom Walmor quer igreja com posição firme diante da crise

Ficou impossível para qualquer cidadão brasileiro desconhecer o que vem acontecendo com o país. As ruas sendo ocupadas por manifestantes. A intolerância entre os que têm posições políticas diferentes e a falta de respostas do governo para esses recados enviados pelas ruas, preocupam setores da sociedade, que cobram ações para que haja uma reação da economia. Mas outros setores mantém uma distância, que não é mais possível ignorar, como é o caso da Conferência dos Bispos do Brasil, que na avaliação do arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Azevedo de Oliveira (foto), precisa dizer uma palavra forte.

 

As manifestações dos últimos dias têm enviado vários recados para os nossos governantes. Eles estão entendendo esses recados?

Todos nós, que temos papel de liderança, somos desafiados a entender os recados ou as sinalizações por parte do povo, porque o povo sente, porque a vida é no povo, sobretudo nas pessoas simples e nas outras lideranças formadoras de opinião. Portanto, há um recado que está dado. Para dizer se o recado foi entendido, é preciso ter atitudes novas. Só dou mostra se entendi um recado, indicando novos caminhos, com novas atitudes. O recado tem que ser dado ao povo. O povo tem direito, porque o povo está sofrendo, passa por dificuldades, está sendo privado de muitas coisas. Portanto, para dizer que entendeu o recado, é preciso dar uma resposta.

 

Pelo que estamos observando, o governo entendeu a manifestação como sendo de parte da população mais elitizada?

Não avalio que só as elites foram para as ruas. O povo precisa de uma nova resposta das lideranças governamentais, das lideranças políticas e religiosas. E o povo tem o direito de exigir. Porque quando o povo é sacrificado e não tem possibilidades de viver o que é do seu direito, a saúde, a educação para os filhos, o trabalho, a remuneração adequada, o povo exige respostas. O povo nem precisa ir para as ruas, ele está dizendo a toda hora. Basta olharmos nos noticiários. Muito mais forte, para nos incomodar a todos, inclusive aos governantes e políticos, mais do que as manifestações das ruas, é o que o povo está dizendo todo dia, toda hora. Quando nós vemos multiplicar aqui em Belo Horizonte o número de moradores em situação de rua é um sinal. É um sinal que está na rua todo dia, não apenas em um domingo, em algumas horas. Mas é na rua todos os dias. Estes sinais estão mostrando que temos que fazer mais. Temos que, com humildade reconhecer que às vezes a gente tenta e não consegue. Mas nós temos que tentar.

 

A CNBB sempre se posicionou em relação as questões políticas brasileiras. Porque o silêncio agora, em um momento como este?

É preciso que a CNBB, através de sua presidência e através da Assembleia Geral possa dizer uma palavra mais forte. Nós internamente sentimos que isso é importante. Não é apenas um falar por falar, mas um falar que de fato possa ter uma força de congregação na direção do que precisamos.

 

Uma cobrança maior?

Uma cobrança maior, mais diálogo, de levantar questões, de fazer propostas. Esse é um desafio também a nós como Igreja e como CNBB.

 

A classe política brasileira precisa rever seus conceitos, ela está muito desacreditada?

A classe política precisa de refazer o seu tecido, que está esgarçado. O que significa isso, para mim, que a classe política precisa recomeçar. E para isso, é preciso um sentido muito profundo de cidadania. Discutir questões não meramente partidária. Os partidos são importantes, mas os partidos não são um fim. O fim de tudo, na discussão política é o bem comum, a justiça, a reconstrução da sociedade. Os políticos precisam reaprender isso. Eles estão no Parlamento só discutindo entre si e disputando quem é o partido que ganha, qual a liderança que se impõe. É preciso reencontrar um novo caminho. Para isso a gente tem que fazer uma coisa que na Igreja ajuda muito, fazer ato penitencial. Reconhecer o próprio pecado, o próprio limite e recomeçar.

 

Se o senhor pudesse dar um conselho para a presidente Dilma, qual seria?

Eu diria à presidente que aquilo que é importante para todos nós, é: dialogar. Ir ao encontro de muitos, ouvir as diferentes lideranças e os diferentes segmentos. Não poupar tempo em escutar, porque é só assim que a gente aprende e consegue perceber a direção nova. Se a gente dialoga só com o mesmo grupo, com as mesmas pessoas, com os mesmos técnicos, a gente não escuta a voz do coração do povo, o coração das pessoas. Isso vale para a Igreja, quando a Igreja não faz isso, ela faz, mas não faz o que deve fazer. E assim também é com o governo. Então, se eu fosse dar um conselho, dizem que conselho a gente só dá a quem pede, diria vamos dialogar, dialogar muito, com os diferentes segmentos, para criar um sentimento que faça brotar a sabedoria, que está nos faltando.

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