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Eleitor tende a valorizar mais o individual do que o coletivo

Os partidos políticos têm sinalizado nas votações no Congresso Nacional, em especial na reforma da Previdência, que linha de pensamento estão adotando. Para o cientista político Malco Camargos (foto), a maioria votou a reforma da Previdência alinhada à sociedade. Para as eleições, no entanto, a conversa é outra e os grandes partidos devem ser os que mais vão sentir os efeitos e, se não adotarem novas pautas, podem sair menores nas eleições municipais e menores ainda em 2022.

 

Muitos deputados foram acusados de não seguirem a orientação do partido na votação do primeiro turno da reforma. Existe hoje uma dificuldade, principalmente dos novos deputados, em seguir essas decisões?

A coesão dos partidos foi muito alta. Tem os casos da deputada Tabata Amaral, que ganharam notoriedade na mídia, mas, na média do parlamento, os partidos agiram de forma coesa. Independente de ser novo ou velho, o comportamento na votação da reforma da Previdência seguiu a indicação do líder do partido. Os casos desviantes foram pequenos. Quem tinha recomendação votou contra e quem tinha orientação de votar a favor votou. Essa é uma pauta que já tinha o apoio da sociedade. Os partidos não agiram na contramão do que era esperado e do custo que é a reforma da Previdência. Eles votaram em uma pauta alinhada com a sociedade, que tem sido colocada desde 2003 como sendo importante para o país, desde os governos do PT.

 

Na votação em segundo turno, a tendência é continuar nesta mesma linha?

Não necessariamente. O primeiro semestre foi de muito alinhamento, não só em relação a reforma da Previdência. Como houve poucas votações importantes, nas que tiveram, os partidos seguiram seus líderes.

 

Ano que vem é ano eleitoral. A tendência é do eleitor continuar nessa guinada à direita?

Tão á direita não. Essa extrema direita não. Acho que nós caminhamos ainda em 2020 com uma mudança na sociedade, na qual as pautas defendidas pela direita, principalmente no que se refere ao liberalismo e a meritocracia, vão ter mais importância do que as pautas de inclusão defendidas pela esquerda. O comportamento das elites políticas tende a buscar mais o centro do espectro ideológico. Mais para centro direita, a partir de 2020 e 2022, do que na centro esquerda. Há uma tendência mundial gerada principalmente pela escassez de empregos, da tecnologia, onde cada um vai buscando a sua sobrevivência pelos seus próprios meios. Quanto mais difícil for a sobrevivência, mais difícil as pautas universais sobreporem as pautas pessoais. A sociedade tende a seguir mais pela valorização do indivíduo do que pelo coletivo.

 

A cláusula de barreira vai diminuir o número de candidaturas, haverá um afunilamento?

Sem dúvida. Mas o efeito maior será em 2022, uma vez que em 2020 não vai impactar na formação do Parlamento, mas já para a escolha dos vereadores teremos menos partidos do que agora. Além de parar o crescimento, que a cada nova eleição tínhamos um número maior de partidos, esse número vai estabilizar e diminuir com a cláusula de barreira. Os efeitos práticos no país nós só teremos em 2022.

 

O PT se perdeu nesse processo?

O PT continua com dificuldade em lidar com o tema Lula Livre versus o tema da defesa dos interesses dos mais necessitados. Enquanto Lula for o principal símbolo da defesa dos mais necessitados, a pauta do Lula Livre ainda sobrevive. É necessário que o PT crie novos símbolos, que é a chave do partido, para que ele possa abrir mão do Lula Livre e escrever uma nova trajetória partidária.

 

O Supremo Tribunal Federal está sinalizando que vai definir pela permanência de Lula na cadeia?

Não sei se a permanência no que se refere a absolvição, mas em pouco tempo acredito que Lula irá para casa, não por ter sido absolvido, mas a partir de uma ação em relação a sua idade. A volta dele para a esfera política dificilmente acontecerá, principalmente se pensar que ele já foi condenado em segunda instância. A anulação do seu julgamento é mais difícil, mas conquistar a liberdade não quer dizer que ele possa voltar a fazer política.

 

Se o PT não encontrar outra pauta ele pode sair enfraquecido nas próximas eleições?

É importante falar que as eleições municipais são diferentes, principalmente nas cidades com menos de 200 mil habitantes, no qual, independente do Lula Livre, quadros do partido possam destacar aquele velho modo petista de governar, que era um jeito diferente em que o PT construiu a sua história. Nas cidades maiores, onde os principais líderes dos partidos têm uma proeminência nacional e, por terem essa proeminência, acabam ligados a pauta do Lula Livre, dificilmente eles terão grandes chances.

 

Que partidos devem se sobressair nas eleições municipais?

O Novo tende a crescer, o PSOL tende a crescer também, são exemplos de partidos que tem identidade e que devem crescer. Dentro do campo do centro parece que o Cidadania está se organizando bem.

 

E o PSDB?

O PSDB enfrenta o mesmo problema dos grandes partidos como PT e MDB. O PT foi o primeiro a enfrentar o desgaste, que também atingiu PSDB e MDB nas últimas eleições. As grandes legendas vivem problemas semelhantes nesse processo de desgaste.

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