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Seca prejudica produção de etanol

Nos últimos meses o brasileiro passou a sentir no bolso uma mudança nos preços do etanol. O combustível, que em várias partes do país é mais competitivo do que a gasolina, nos últimos meses passou a ter paridade com a gasolina. Isso acontece, segundo Mário Campos (foto), presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais, porque a estiagem que aconteceu no ano passado afetou fortemente a produção.

O que está acontecendo com o preço de etanol?

Nós estamos enfrentando uma das maiores secas nesta região produtora de cana. Toda região produtora, principalmente no centro sul do Brasil, que é composta por Minas, São Paulo, boa parte de Goiás e Paraná. A seca foi forte nesses estados e a produção foi fortemente afetada. Essa estiagem durou boa parte do ano passado. No segundo semestre, que é quando uma parte da cana está em desenvolvimento, quando é feito o corte, ela rebrota com a chuva. O verão deste ano foi pouco chuvoso. A chuva também foi muito mal distribuída, e isso fez com que a cana não se desenvolvesse de uma forma adequada. Já é fato que neste ano o Brasil vai colher menos cana do que no ano passado. Esse é um ponto. Mesmo assim, a produção foi significativa, foi grande. A seca prejudicou o início de moagem. Normalmente, nós iniciamos a moagem em abril em algumas unidades. Algumas unidades iniciaram em abril, mas nós não tivemos uma grande quantidade de produção em abril e início de maio. Só agora, aliás na primeira quinzena de maio é que nós conseguimos regularizar uma maior oferta do produtos. Mesmo porque, nós precisamos fazer estoque.

Isso se reflete na hora de abastecer o carro?

O que o consumidor sempre vê nas bombas é o preço do etanol caindo no início da safra. Ele não observou isso dessa vez porque a safra atrasou. Não chegou a faltar produto, alguns postos chegaram a pedir redução da mistura do álcool na gasolina, mas isso não tem o menor cabimento. Não faltou etanol. A alta do preço, no entanto, provocou algumas reações na cadeia. A notícia boa é que nós observamos um arrefecimento do preço ao produtor. Nós vimos na semana passada que o preço médio caiu significativamente em relação à semana anterior. Na última, observamos uma certa estabilidade e já observamos os preços reduzidos no produtor. Daqui a pouco essa redução também estará nas bombas.

É um ano difícil para o setor?

É um ano mais complicado para o segmento, porque é um ano que nós vamos ter essa redistribuição da oferta de cana. Isso vai impactar na produção de açúcar, vai impactar a produção de etanol e é preciso que o produto chegue para consumir todos os meses, até o início da próxima safra. É bem provável que os preços do etanol neste ano fiquem bem próximos da gasolina. Com isso, é bem provável que fiquemos com o preço do etanol abaixo desse preço de paridade e é bem provável que no final do ano o preço fique acima da paridade com a gasolina. Neste ano nós realmente fomos fortemente impactados por essa seca. Mas a estiagem não prejudica só a cana, está prejudicando sobretudo o setor elétrico. O nível dos reservatórios está bem baixo, está bem crítico. Será um ano desafiador no sentido energético e esse é um reflexo do processo de variação climática que nós estamos tendo.

As queimadas a devastação na Amazônia têm alguma relação com o que está acontecendo no clima?

É difícil dizer. Nós procuramos entender quais são as variações. Nós temos ouvido os produtores e nas regiões produtoras onde conversei com o produtor, ouvi relatos de alguns que tinham passado por secas piores no passado, outros dizem que essa seca foi maior e teve um efeito muito grande na produção. As percepções são variadas. O que nós precisamos colocar como reflexão é que as variações climáticas são mais radicais. De 2019 para 2020 nós tivemos uma quantidade grande de chuva, que impactou a safra do ano passado. Mas tivemos o último verão menos chuvoso. Essa coisa da causa e consequência, nós estamos na consequência e, agora, temos que descobrir a causa. Nós vivemos em um planeta em que o que acontece na China afeta o Brasil. Tudo está conectando. O que acontece nos Estados Unidos afeta aqui. Está tudo interligado. Nós falamos muito atualmente dos fenômenos como o El Ninho, a La Ninha, que são fenômenos relacionados a temperatura da água do mar, do Oceano Pacífico. Então qual a relação do que acontece lá com a temperatura aqui? Eu não sei. A ciência um dia ai investigar e saberemos o que realmente acontece.

Tem alguma projeção para a próxima safra?

É difícil fazer uma projeção. Nós estamos entrando num período que historicamente não chove. Não se espera chuva nesse período. Pode chover? Pode ser que sim. Choveu na semana passada, mas isso não tem efeito sobre a safra. E mesmo não tendo um inverno rigoroso no Brasil, há sempre o temor em relação as geadas em alguns pontos. Ano passado mesmo tivemos geada em junho.

O que nós temos agora em relação ao etanol é uma estabilidade no preço com tendência de queda?

Nós estamos observando uma estabilidade de preço com tendência de queda. Esta semana foi a de estabilidade, talvez em decorrência até dessa chuva que ocorreu. O fato é que a oferta está aumentando de forma gradativa. No mercado, quando se tem uma oferta maior, o preço tende a cair. Essa é a regra da oferta e a demanda. Quando acontece o que aconteceu em relação ao etanol, o consumidor com o seu carro flex modifica o combustível que ele está utilizando. A demanda também dá os seus recados. A demanda de etanol reduziu. Há um aumento da demanda de gasolina e uma diminuição da procura pelo etanol. Em Minas Gerais o consumidor tem como fazer a conta do valor da gasolina e do etanol na hora de escolher o combustível. Aqui também é um dos poucos estados onde todos os postos têm que colocar em local visível a relação de preço dos combustíveis. É uma informação que o posto tem que oferecer ao consumidor. Isso não existe em outros estados.

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