O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesse sábado (19), que tem muitas críticas à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ao ser questionado sobre a nota em que teve a postura classificada como “grosseira, arbitrária e incorreta” pelo Colégio de Presidentes de Conselhos Seccionais. O texto, divulgado na quinta-feira (17), refere-se à participação dele durante julgamento da ação que questiona doação de empresas a campanhas eleitorais. “Sou de um tempo em que eu estudei, por exemplo, textos do Caio Mário da Silva Pereira, que foi presidente da OAB, quando o Raymundo Faoro era um dos seus membros. Depois, eu conheci a presidência do Raymundo Faoro. Era gente que tinha lido muitos livros e que escrevia livros, não eram defensores de entidades sindicais. Eu tenho impressão que a OAB não pode virar aparelho de partido”, criticou o ministro, em Campinas (SP), após participar do Fórum Nacional de Agronegócios em um hotel. O evento é promovido por líderes empresariais do setor. Mendes disse também não se incomodar com as críticas recebidas, inclusive da OAB, por votar contra a proibição das empresas na doação para as campanhas. “Não (incomodam). Minhas posições são muito claras, são muito transparentes. Acho que na vida pública, eu já disse isso, a gente fica conhecido, é claro, pelos amigos que têm e pelos inimigos que cria”, ponderou. A assessoria da OAB, em Brasília (DF), não se pronunciou sobre o assunto.
“Não tem briga”
O ministro voltou a defender que o esquema investigado pela Operação Lava Jato revela um “modelo de governança corrupta” que, para ele, pode ser chamado de “cleptocracia”. Além disso, foi taxativo ao ser questionado se o país passa por um momento mais difícil, comparado à época em que houve o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, atualmente senador pelo PTB de Alagoas, em setembro de 1992.”É difícil comparar, eram momentos diferentes. Hoje o país é mais complexo, mais ativo. Estamos na era da internet, toda essa participação. Em termos de dimensão de escândalo, é evidente que o quadro hoje é muito mais grave”, avaliou. Mendes considerou que não há briga entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. “A rigor, cada qual está cumprindo as suas funções. Em alguns momentos a gente tem tensões, é normal. Mas, havendo decisão, cumpre-se”, frisou o ministro do STF. Mendes ainda ironizou a possibilidade de que o Partido dos Trabalhadores venha a processá-lo por ele ter dito que a legenda implantou a “cleptocracia”. “O que eu falei é que implantaram um modelo que permite desenhar a corrupção como modelo de gestão. Isto tem nome. É ”cleptocracia.” Agora só faltam dizer que sou o culpado da morte do prefeito Celso Daniel”. O petista foi assassinado em 2002, quando comandava a prefeitura de Santo André e sua morte é apontada por políticos e policiais como uma “queima de arquivo” pois as investigações indicaram a possível existência de uma rede de arrecadação de recursos para campanhas petistas junto a concessionários de transporte coletivo da cidade.