Considerado um dos maiores especialistas em crimes financeiros do país, o juiz federal Sergio Moro (foto) falou a uma plateia de 586 empresários, autoridades e líderes participantes do Almoço-Debate promovido pelo LIDE – Grupo de Líderes Empresariais, presidido por João Doria Jr. O evento aconteceu ontem (24) no Hotel Grand Hyatt, na capital paulista. “A corrupção é um problema muito sério e não se restringe somente ao Poder Público (…). Nesse caso que estou atuando há diversos indícios de que a corrupção chegou a um nível sistêmico”, afirmou Moro. O juiz citou algumas ações julgadas de pagamentos de propina a agentes públicos. Uma das explicações recorrentes dos julgados era que “essas eram as regras do jogo”. “Nesses casos, não houve extorsão, e sim prática natural de pagamento de propina – o que é realmente assustador”, disse. Responsável pela Operação Lava Jato, o magistrado é um estudioso da Operação Mãos Limpas, uma das maiores investigações ocorridas na Itália na década de 90. Moro salientou que, dos 4.520 investigados, foram feitas 800 prisões e cerca de 40% dos crimes da Operação Mãos Limpas acabaram sem julgamento – o que o juiz não espera com relação à Operação Lava Jato. “Vejo a Lava Jato não como uma mudança, mas como uma oportunidade. Não acredito que o país vá mudar se não houver mudanças no âmbito da iniciativa privada e dos setores públicos, inclusive no sistema criminal. A iniciativa privada deve dizer não à propina e denunciar”. Segundo o juiz, diminuir a corrupção sistêmica já é um ganho enorme para a economia e para o brasileiro. “A sociedade deve estar vigilante sempre”, frisou. Para crimes complexos, comentou Moro, se recorre a métodos especiais de investigação. “A delação premiada é um desses métodos. No entanto, quando se faz um acordo com um criminoso, se cria polêmicas jurídica e ética. Normalmente, isso se resolve com argumentos e provas consistentes. Mas é melhor ter um processo contra um criminoso do que não ter nenhum”, afirmou.
Dinheiro privado em campanha precisa de muito controle
Questionado se defende o financiamento privado de campanhas eleitorais, Moro afirmou que a decisão foi tomada e que se doações privadas forem novamente permitidas, haveria a necessidade de ter regras muito claras. “Doações não oficiais, o caixa 2, é problema real. Há muitas dúvidas sobre esse assunto”, afirmou. Ao final do evento foi apresentada a 108ª edição da Pesquisa Clima Empresarial LIDE-FGV, realizada com os empresários presentes ao ALMOÇO-DEBATE, que revelou pessimismo acentuado nos resultados, especialmente para 2015. “Os índices apontam as piores notas em 13 anos do levantamento”, avaliou Fernando Meirelles, responsável pela pesquisa e presidente do LIDE CONTEÚDO. O índice, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), é uma nota de 0 a 10, resultante de três componentes com o mesmo peso: governo, negócios e empregos.