O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estimou ontem (10) que 11 milhões de crianças estejam em risco de fome, doenças e falta de água na África Oriental e Austral em consequência da força crescente do fenômeno meteorológico conhecido por El Niño. Segundo o Unicef, o El Niño também provoca secas e cheias em partes da Ásia, da região do Pacífico e da América Latina. O fenômeno é um padrão climático ligado ao aquecimento das águas de superfície do Oceano Pacífico, que pode ter efeito profundo em todo o mundo. As manifestações do El Niño tendem a ocorrer com uma periodicidade que varia entre dois e sete anos. “As consequências poderão ter efeito cascata sobre várias gerações, a menos que as comunidades afetadas recebam apoio para lidar com a quebra das colheitas e a falta de acesso à água potável, que deixam as crianças mal nutridas e em risco diante das doenças que matam”, alertou o Unicef. De acordo com o fundo, o El Niño pode levar a um aumento significativo de doenças como a malária, a dengue, a diarreia e o cólera – doenças que estão entre as principais causas de morte infantil. “Quando as condições meteorológicas extremas privam as comunidades do seu modo de vida, as crianças mais novas sofrem muitas vezes de subnutrição, o que as deixa ainda mais expostas ao risco de adoecer, sofrer atrasos no desenvolvimento cognitivo e morrer prematuramente”, diz a organização.
Mudanças climáticas agravam o problema
“As crianças e as comunidades em que elas se inserem precisam da nossa ajuda para se recuperar do impacto do El Niño e se preparar para os estragos que o fenômeno pode desencadear,” considerou o diretor executivo do Unicef, Anthony Lake. Ele lembrou que a intensidade e o potencial de destruição do El Niño podem representar um alerta. “Ao procederem à discussão de um acordo para limitar o aquecimento global, devem lembrar-se de que o futuro das crianças de hoje e o do planeta que elas vão herdar está em causa”, destacou Lake. Os líderes mundiais vão se reunir em Paris na 21ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, também conhecida como COP21, de 30 de novembro a 11 de dezembro. O objetivo do encontro é alcançar um acordo para limitar o aquecimento global mediante a redução das emissões dos gases de efeito estufa. As ocorrências do El Niño não são causadas pelas alterações climáticas, mas os cientistas acreditam que elas estão se tornando mais intensas em consequência das alterações climáticas. Muitos países que estão agora sofrendo os efeitos do El Niño são aqueles que enfrentam a mais grave ameaça por causa das alterações climáticas. Muitas das áreas afetadas têm também elevados níveis de pobreza. Segundo especialistas, é provável que o fenômeno meteorológico, um dos mais fortes que tem sido registrado, venha a causar mais cheias e secas, a alimentar tufões e ciclones no Pacífico e a afetar mais áreas se continuar a ganhar força, como indicam as previsões para os próximos meses. A Somália, Etiópia, Indonésia, as nações do Pacífico, a Guatemala, Honduras, El Salvador, o Peru e o Equador são alguns dos países e regiões afetados pelo El Niño.