Alvo de críticas de alas do PT que discordam da política econômica do governo, a presidente Dilma Rousseff (foto) afirmou ontem, em entrevista a jornalistas no Chile, que não governa “só para o PT” e sim para os brasileiros. Ela também confirmou que não participaria das comemorações do aniversário de 36 anos do PT, ontem, no Rio de Janeiro. A presidente viajou ao Chile na sexta (26) para se reunir com a presidente chilena, Michele Bachelet. O Planalto não havia confirmado se Dilma retornaria ao Brasil a tempo de participar das comemorações do partido. Segundo o colunista do Portal G1 e da GloboNews, Gerson Camarotti, emissários da presidente Dilma na convenção do PT, no Rio, sondaram o ambiente para a presidente. As informações repassadas foram de que o clima no local era hostil para a presença dela. “Nós vivemos numa democracia. O governo é uma coisa, os partidos são outra. Em que pesem eles serem a base, muitas vezes eles divergem. Isso é normal e tem de ser encarado com normalidade”, disse Dilma a jornalistas. “Eu sempre pedirei apoio e conto com o apoio deles. […] Um partido é um partido, um governo é um governo. Eu não governo só para o PT. Eu governo para os 204 milhões de brasileiros. Eu não governo só para o PT, só para o PSD, só para o PDT, ou só para o PTB, ou só para o PMDB. Eu tenho de governar olhando todos os interesses. E como o nome diz, o partido é sempre uma parte”, complementou a presidente.
Divergências, mágoa não
Diante da insistência dos jornalistas que acompanham a visita ao Chile sobre o distanciamento dela com o PT, Dilma disse que é normal haver divergências com relação às políticas adotadas entre o governo e os partidos que compõem a base aliada. Ela, porém, ressaltou que não há “mágoas” com o PT. “Não é pessoal isso. Não é possível vocês, jornalistas, acharem que essa relação tenha mágoas. Tem concordâncias, discordâncias, tem propostas diferentes e tem amadurecimento do governo, que não é dono da verdade, nem dos partidos, que são donos de sua verdade. Cada um tem a sua verdade e acha que ela tem que ser externada”, insistiu a presidente. Perguntada se iria voltar ao país ontem para participar da agenda de comemorações do PT, Dilma disse que “gostaria muito” de ir mas que, devido à distância entre o Chile e o Brasil, não chegaria a tempo para a festa. “Eu gostaria muito [de ir], mas imagino que você perceba que entre o Chile e o Brasil tem um problema de distância”, disse a presidente. Ela informou ainda que o PT já foi informado sobre sua ausência.
‘Programa Nacional de Emergência’
Na sexta-feira, durante convenção nacional, o PT lançou o que chamou de “Programa Nacional de Emergência”, com proposta de redução da taxa básica de juros e a volta da CPMF. A cúpula do PT também sugeriu que as reservas internacionais sejam utilizadas para um fundo destinado a obras de infraestrutura, saneamento e energia, por exemplo, e reajuste nos valores do Bolsa Família. O documento apresentado como proposta para discussão do diretório nacional afirma que “o Brasil atravessa período de crise e turbulência, em que se confrontam distintas visões sobre o desenvolvimento nacional”. De acordo com partido, as contas estatais somente poderão ser resolvidas “a partir da radicalização dos mecanismos redistributivos”. Em fevereiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco central decidiu manter em 14,25% a taxa básica de juros (Selic). A decisão correspondeu à pressão do setor produtivo e do próprio PT contra o aumento do valor. Conforme o texto divulgado nesta sexta pelo PT, reduzir os juros é “fundamental” para diminuir o déficit nominal da União.