Tem gente falando aquilo que não sabe ou que não deve falar

“O sapateiro não deve passar dos sapatos”. A frase seria de autoria do pintor Apeles (sec. IV a.C), ao responder a um sapateiro atrevido, vendo acatada uma sugestão para correção de uma sandália, uma pintura, se sentiu no direito de comentar outros detalhes do quadro. Antiga a frase, mas de uma atualidade impressionante no Brasil de hoje. Como temos “sapateiros” dando palpite na política e, em especial, no processo do impeachment da presidente. Política é assim mesmo. Como no futebol, todos dizem entender e se julgam no direito de palpitar. Não é diferente com o Direito – e também no jornalismo – onde palpiteiros de toda ordem, fazem análises como se mestres na profissão fossem. Dos que nada sabem é até aceitável a análise inconsistente, para um lado ou outro, mas é inadmissível que figuras de cabeça coroada se metam a dar opiniões, sem considerar as consequências de suas falas. Sejam elas consistentes ou não. Todos nós somos iguais perante a lei, todos nós temos direito a externar e defender nossas opiniões. Mas nestes “todos” há exceções, pessoas que não devem, nem podem, se manifestar em relação a determinados assuntos, seja porque mais tarde poderão ser chamados a decidir questões que confrontem com suas ideias tornadas públicas, seja porque suas opiniões impactam o mercado, com reflexos incontroláveis na economia. Quem, deste grupo, gosta de sair falando sobre o que não deve, precisa lembrar-se que a economia vive muito mais de especulações do que de fatos. Neste momento, um pouco de prudência de todos é bom. Não se quer impedir que as pessoas se manifestem, que coloquem nas ruas suas opiniões, seus desejos suas raivas. Mas os que exercem o ofício do sapateiro não passem dos limites do sapato. Ou das sandálias.