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Elas estão de volta, pesquisando preços e ensinando a economizar

Paulo César de Oliveira
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A inflação alta trouxe de volta aos supermercados a figura das donas de casa e suas pranchetas pesquisando os preços dos produtos e a variação de um estabelecimento para o outro. Esse trabalho começou no governo do presidente José Sarney. O país vivia a era da hiperinflação, com os preços variando a cada instante chegando a taxa de 1764,86%, no final de 1990. Longe de chegar a uma situação como essa, a população, no entanto, sente os efeitos perversos da disparada dos preços na hora de pagar a conta de luz, de água e nos supermercados e percebe que o poder de compras dos salários não é mais o mesmo. Para ajudar o consumidor, o Movimento das Donas de Casa, que andava um pouco relaxado em relação a essa pesquisa de preços, volta agora aos supermercados. No lugar das pranchetas, os pesquisadores usam tabletes e celulares e segundo a presidente do MDC, dona Lúcia Pacífico Homem (foto), a variação dos preços não é a mesma da era Sarney, mas preocupa e, para fazer o orçamento espichar, a ordem é acabar com o desperdício e optar por marcas com preços mais em conta.

 

O Movimento das Donas de Casa surgiu no governo Sarney, com a inflação fora de controle. A sra sente que está voltado no tempo?

Não vou dizer que está bom agora, mas na época do Sarney a inflação era altíssima e a nossa ansiedade de fazer as contas, muitas vezes ao dia, era muito maior do que agora. Nós estamos sentindo que está tendo inflação, mas não tão galopante como estava naquela época.

 

Como estava a situação econômica quando o Movimento das Donas de Casa surgiu?

O Movimento surgiu em 1983. Nós sentíamos a inflação alta e nós tínhamos que manifestar o nosso descontentamento, a nossa preocupação para que o governo tomasse algumas providencias. Foi para isso que o movimento surgiu.

 

E agora, a senhora está voltando a usar as pranchetas para pesquisar os preços, por que? O que está preocupando?

Nós voltamos com as pesquisas agora, uma vez que a inflação está mostrando que o orçamento doméstico não está comportando mais, e com isso, nós decidimos voltar com as pesquisas. Mas naquela época era pior. Mas nós sempre usamos a pesquisa como ferramenta da maior importância para a dona de casa. Isso porque mesmo com a economia estável sempre há uma diferença de um local, de um supermercado para outro. Nós fomos relaxando um pouco porque a diferença era mínima, mas agora estamos vendo que a diferença não é tão mínima assim.

 

Do ano passado para cá houve um descontrole dos preços?

É, foi do ano passado para cá que percebemos esse descontrole. Enquanto a moeda estava estável, a dona de casa tinha aquela tranquilidade de separar a mesma quantia, ir para o supermercado, comprar os mesmos itens, que davam para determinados dias. Foi quando ela começou a perceber que não dava mais. Ela percebeu que não dava mais, não dava para comprar todos os itens que ela comprava antes de começar a inflação.

 

A pesquisa acaba forçando os empresários e os supermercado que praticam um preço maior a diminuir o valor dos produtos?

Com certeza. O empresário vê que o produto dele, a marca dele, ou o fornecedor, no caso dos supermercados, eles percebem que estão perdendo para outros estabelecimentos e que as donas de casa estão dando preferência pelo supermercado que está vendendo mais barato. O empresário não quer ter prejuízo e não quer perder o freguês.

 

O que preocupa mais agora?

É a alimentação mesmo. O mais preocupante agora é a alimentação. Mas os juros altos também preocupam. Como o orçamento doméstico não está comportando, me preocupa muito o endividamento. Nós temos feito um trabalho de esclarecimento, educativo mesmo, para que as pessoas não se endividem, porque os juros estão altíssimos. Os cartões de crédito, então, nem pensar em dívidas com o cartão de crédito.

 

Como manter a alimentação e as contas de água, luz e aluguel dentro do orçamento?

Substituindo marcas que estão com os preços altos, lá em cima, buscando marcas novas, pondo em prática a criatividade das donas de casa com os alimentos, com receitas diferentes. Mistura, por exemplo, mandioca com carne, com carne moída, já diminui o que vai gastar com carne, usando a criatividade e apertando o cinto mesmo. E é importante colocar toda a família a par desta situação. Outra coisa muito importante é dizer não ao desperdício. Não dá mais para desperdiçar. Não tem como ter esse tipo de atitude com a inflação subindo, com o salário minguando e a pessoa ficar desperdiçando. Nós, no Movimento das Donas de Casa, fazemos palestras ensinando a aproveitar integralmente os alimentos e com dicas de consumo.

 

A sra trabalha muito com prestação de serviços. Houve uma diminuição nas consultas por profissionais cadastrados no Movimento das Donas de Casa?

Nós percebemos que houve uma diminuição sim, principalmente há uns dois ou três meses. Agora começou a procura novamente. Mas não sei o que vai fazer aumentar a demanda agora.

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