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Contra a crise povo aceita até regime militar

Paulo César de Oliveira
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Estudiosos, cientistas políticos, analistas econômicos, historiadores, empresários, políticos e toda sociedade brasileira acompanham, como nunca antes na história desse país, o que acontece no Congresso Nacional. A discussão do impeachment da presidente Dilma é apenas um dos muitos problemas que o país tem que resolver para encontrar o caminho do desenvolvimento. Mas as respostas não são fáceis. Uma ampla pesquisa realizada pelo Grupo de Opinião Pública da UFMG em parceria com o Instituto Ver Pesquisa e Estratégia, com moradores de Belo Horizonte, fez uma radiografia do que pensam os brasileiros. E a constatação é a de que sem esperança, sem líderes políticos confiáveis e sem conseguir enxergar uma saída a curto prazo, muitos acham aceitável até mesmo uma intervenção militar para fazer com que o país volte aos trilhos, como analisa o cientista político Malco Camargo (foto).

 

A população em Belo Horizonte é a favor do impeachment, mas não sabe bem o porquê?

São alguns fatores distintos, a primeira questão relevante é a de que as pessoas defendem o impeachment, mas também defendem o impeachment do vice-presidente da República, e defendem, sem estar ancorados no que o STF definiu, que o impeachment deve acontecer, principalmente, pelo crime de responsabilidade e pelas pedaladas fiscais. Apenas ¼ dos que defendem o impeachment sabem qual é o motivo real dele. Há uma mistura em relação aos determinantes do impeachment e, mais do que isto, há uma falta de alternativa no pós impeachment. O que as pessoas querem é uma melhora na qualidade de vida a partir das situações que estão vivendo no momento.

 

Como o país chegou a uma situação como esta?

Impulsionados pela operação Lava Jato, os partidos de oposição e entre eles o PMDB, assumiram o discurso da corrupção como sendo o principal problema da política e do país hoje e responsabilizando o PT por isso. Acontece que, o que eles propõem que seja o problema do PT, o eleitor também atribui a eles. Isso fica evidente quando as notas dos partidos são muito similares. Prometendo uma entrega do que eles não têm, eles jogaram por terra a credibilidade de todo sistema partidário. Isso abriu espaço para novas soluções e muito me preocupa a boa imagem que os militares tem hoje no Brasil. É uma das instituições mais confiáveis e para 1/3 dos entrevistados, tanto faz fazer parte de uma ditadura ou em uma democracia, o que é muito perigoso.

 

Essa percepção dos militares abre espaço para grupos mais radicais de direita?

Sem nenhuma dúvida. Nem coloco em discussão de grupos mais radicais, porque figuras como Bolsonaro não emergiram como atores importantes. Mas abre espaço para que em determinadas situações a alternativa de uma solução fora das regras democráticas possam ser bem vistas pela população. Mais do que isto, como as pessoas não veem hoje nas elites políticas uma alternativa possível, fica cada vez mais aceitável para grande parte da população, o rompimento das regras democráticas.

 

Porque essa situação? Por entender que as instituições não têm credibilidade?

Exatamente. A falta de credibilidade dos partidos e das elites políticas faz com que o cidadão, procurando melhora, uma sobrevivência, ou uma sobrevida em relação a sua qualidade de vida, busque outras alternativas. E com isso fica mais latente a possibilidade de uma aprovação fora das regras do jogo democrático.

 

Com isso, os candidatos ligados aos militares podem ter chance nas eleições municipais?

Quando nós falamos em rompimento, nós não falamos em candidatos ligados a militares. É o fim de todas as candidaturas. Não é o discurso da eleição a partir de um novo perfil de representante e sim de uma solução fora das regras eleitorais, o que é muito mais grave.

 

Abre espaço para uma intervenção militar, um golpe?

Nós não estamos falando de um golpe branco ou na troca de governo, mas em uma intervenção. Parte da população aprova ou tolera uma intervenção, dado a falta de alternativa que ele vê hoje nas elites políticas.

 

Mas porque essa credibilidade nos militares? O que leva as pessoas a acreditarem que com eles será melhor?

Acho que é o resultado de um processo histórico. Primeiro, foi a eficiência dos militares ao conduzir aquela transição lenta e gradual e segura, tal como eles fizeram de 1974 para frente. Em segundo, um grupo da sociedade brasileira, que sempre defendeu que nós não tivemos um golpe e sim uma revolução em 1964. E em terceiro, o sucesso econômico durante o regime militar, com os crescimentos altos da economia, e a mobilidade social que gerou no Brasil às custas de uma dívida externa paga por mais de 20 anos à frente. Mas não há como discutir o sucesso econômico durante a ditadura militar. Essa boa imagem, nos traz como referência em momentos de crise como estamos agora.

 

Onde houve corrupção também, não é?

A corrupção, naquele momento, não se falava nada. Então não havia indícios de corrupção. Mas não porque ela não existisse e sim pela ausência de uma imprensa livre. No controle da informação e na transição deixaram passar a ideia de que naquela época tinha menos corrupção do que tem hoje.

 

Onde o PT errou nesse processo todo?

Acho que o PT errou por ter usado os mesmos meios de seus antecessores para promover seus fins. O PT não é um partido, na minha opinião, mais corrupto do que outros, ou mais irregular do que outros no processo democrático. Mas de outro lado, o PT fez em seu governo as mesmas práticas, o mesmo modelo de gestão, o mesmo vínculo de determinados financiadores de campanha que outros candidatos fizeram e está sendo punido por isso.

 

O fato de ter ocorrido todo esse processo de corrupção na Petrobras, que é um símbolo do país, também pesou?

Sem dúvida. Mas se fizer uma busca em outras empresas públicas, em governos de outros partidos, nós chegaremos a resultados bastante semelhantes. O que eu quero dizer é que não é o PT que é mais do que os outros. O PT foi igual aos outros e está sendo punido por isso, assim como os outros também devem ser, e eu espero que sejam.

 

A operação Lava Jato em si, como ela interferiu nesse processo?

A Lava Jato é um marco no que se refere a relação entre autoridades públicas e a corrupção. Já que as elites políticas não são capazes de propor um novo ordenamento, que seja suficiente para coibir a corrupção, a ação da Lava Jato e a “culpabilização” dos políticos pode fazer com que tenhamos comportamentos diferentes no futuro. A Lava Jato é uma espécie de esperança de que as coisas possam ser diferentes.

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