A crise energética tem estimulado o investimento em novas fontes, diferente das tradicionais como as hidrelétricas. No mundo um dos sistemas que mais tem avançado é a energia fotovoltaica, que é convertida a partir da energia solar, transformada em eletricidade. No Brasil, esse tipo de tecnologia não é tão utilizada como em outras partes do mundo. Mas tem potencial para avançar, segundo o presidente da Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica, Rodrigo Lopes Sauaia (foto), que reivindica isonomia em relação a tributação aplicada as empresas que investem em energia alternativa.
O Brasil está investindo na busca de alternativas de energia. Que caminhos o país está tomando?
O Brasil é um país emergente. Nós estamos dando início ao desenvolvimento dessa tecnologia fotovoltaica. Esse setor começou a se desenvolver mais a partir de 2012, com sistemas conectados à rede elétrica. No passado, o Brasil usava esse sistema de energia solar fotovoltaica em pequenos sistemas isolados em comunidades ribeirinhas no interior dos estados, onde não havia conexão com a rede de transmissão e distribuição. A partir de 2012, através da resolução normativa número 482 da Agencia Nacional de Energia Elétrica e depois, de leilões realizados pelo governo federal, nós começamos a usar mais energia solar fotovoltaica nas nossas residências, comércio, indústria, prédios públicos, no ambiente rural e também em usinas de grande porte. Estamos começando, estamos dando os primeiros passos dessa fonte aqui no Brasil. Ela ainda enfrenta alguns obstáculos, que precisamos superar.
Quais são esses obstáculos?
O primeiro obstáculo importante é a tributação. A energia solar fotovoltaica é muito tributada, em comparação com as outras fontes renováveis, porque é uma fonte que ainda não tinha a atenção do governo e os mesmos incentivos que outras fontes já têm. Nesse sentido, o primeiro passo que nós precisamos avançar para desenvolver mais essa fonte de energia é trazer isonomia de tratamento tributário. Isentar IPI, PIS e Cofins sobre os equipamentos do setor para que eles tenham o mesmo tratamento tributário que as outras fontes renováveis, que já tem isenção desses impostos. Com isso nós vamos poder diminuir o preço da energia solar em 15% no Brasil.
Tecnicamente qual a diferença da fonte de energia fotovoltaica?
Existem diferentes formas de se aproveitar a energia solar. A que o Brasil mais conhece, e que Minas Gerais utiliza muito, é o aquecimento solar. São aqueles sistemas de aquecimento solar que utilizamos em nossos telhados para esquentar a água do chuveiro, da piscina ou industrial. É para esquentar água. A energia fotovoltaica é diferente. É utilizada a radiação do sol para gerar energia elétrica, usando um efeito chamado fotovoltaico, que converte a energia do sol em eletricidade, sem partes móveis, sem ruído, sem emitir gases líquidos ou sólidos durante a sua operação. É a energia elétrica que vamos usar nas nossas casas, nas lâmpadas, eletrodomésticos, pode ser em uma indústria, em um prédio público.
Qualquer apartamento, casa pode utilizar esse tipo de energia?
Qualquer um. Inclusive, agora, com a regulamentação 687 de 2015, não só as pessoas podem instalar, como as empresas também podem instalar esse sistema para usar em sua matriz ou em suas filiais e as pessoas podem se reunir, no que nós chamamos de energia compartilhada. As pessoas podem instalar um sistema fotovoltaico compartilhado através de uma cooperativa, um consórcio que ele forma com outras pessoas interessadas, e com isso é instalado um sistema maior, com um custo menor, a energia fica mais barata e eles tem o benefício de gerar energia solar a um preço mais competitivo.
Como se instala esse sistema?
São placas fotovoltaicas presas no telhado, ou na fachada de um prédio ou sobre o solo diretamente. Esses módulos são conectados a um inversor, que converte a corrente contínua do sistema gerada nos módulos em uma corrente alternada, a que usamos na nossa tomada na nossa residência ou em uma indústria. Além disso, esse inversor pode injetar energia também na rede elétrica. Se a pessoa estiver fora da sua casa e o sistema estiver gerando energia elétrica, essa energia não é perdida. Ela é injetada na rede para ser consumida no bairro e a pessoa ganha um crédito de energia, que pode abater do seu consumo e na conta de energia elétrica.
Qual a vantagem em relação a uma hidrelétrica ou um grande sistema de geração de energia?
Esse sistema é mais barato, principalmente, para o cliente final, pessoa física, ou para a empresa que consome diretamente da distribuidora. Ela pode passar a gerar parte da energia elétrica em casa ou na sua indústria, na sua empresa e com isso reduzir de 80 a 90% o gasto de energia comprando de terceiros e gerar essa energia para o seu próprio consumo.
Como está a adesão a esse tipo de energia?
Atualmente nós temos por volta de dois mil sistemas conectados à rede. O que ainda é muito pouco, se comprado a 77 milhões de unidades, de clientes, conectados à rede elétrica que o Brasil tem. Existe muito espaço para avançarmos. Mas é um segmento que está crescendo rápido e para este ano, a expectativa do setor, segundo a Agencia Nacional de Energia Elétrica, é que tenhamos um crescimento de 800%.
Faltam incentivos, além da questão tributária?
Faltam financiamentos. E a expectativa é a de que bancos estaduais e do governo federal, o BDMG aqui no estado, a Caixa Econômica Federal, assim com o Banco do Brasil, nos ajudem a ter linhas de financiamento atrativas para a população e para as empresas, para que elas possam fazer esse investimento, sem ter que tirar o dinheiro do bolso, investindo com o financiamento de um banco.
Essa é a energia do futuro?
A energia solar já foi a energia do futuro. Hoje ela é, cada vez mais, a energia do presente e tem ajudado os brasileiros a se tornarem mais independentes, a terem mais economia na sua conta de energia elétrica e também contribuir para que o pais seja cada vez mais sustentável e renovável. No ano passado nós tivemos um crescimento de energia fotovoltaica mundial de 25%. Foram instalados no mundo mais ou menos 50 mil megawatts em energia solar fotovoltaica. O Brasil tem na sua matriz elétrica 50 megawatts. Em um ano o mundo instalou mil vezes o que o Brasil tem desde o início do seu investimento neste tipo de energia. No mundo, nós temos no total mais ou menos 230 mil megawatts de energia solar fotovoltaica, o que dá mais ou menos um Brasil e dois terços de energia fotovoltaica do mundo.
É interessante para as grandes empresas de energia elétrica esse tipo de alternativa?
Na realidade, as distribuidoras, as grandes empresas, estão participando desse mercado. Vários grupos geradores que participam desses investimentos, que trabalham com fontes como a eólica, a biomassa, estão agora investindo também em energia solar fotovoltaica. As próprias distribuidoras estão criando as suas empresas para ofertar serviços e sistemas desse tipo de energia. Nós entendemos que há espaço para todos tralharem.