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Temer assume presidência com um pé no avião

Paulo César de Oliveira
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O presidente, agora não mais interino, Michel Temer (foto), está a caminho de Pequim mas, ao iniciar viagem ontem à tarde, já deixou instalada uma crise em sua base de apoio, que poderá custar ao seu governo sérias dificuldades no Parlamento. A decisão do PMDB de se articular com o PT e votar contra a suspensão dos direitos políticos da presidente, o que a tornaria inabilitada para ocupar cargos e funções públicas, como previsto na lei, revoltou setores do PSDB e o DEM. Aloísio Nunes, tucano paulista chegou a anunciar a saída do partido do governo, entregando os cargos. Ronaldo Caiado, líder do DEM, chegou a falar em buscar, no Supremo, a anulação da decisão de não aplicação da pena de inabilitação. “A suspensão dos direitos não é pena acessória. Ela está prevista como consequência do impeachment. Mudaram a votação através de um acordo que não foi comunicado aos demais partidos da base. Sabe-se lá quais outros acordos foram feitos. Que surpresas ainda teremos? ”, disse Caiado demonstrando indignação. Mas o líder do Democratas terá que conter sua indignação e refrear a vontade de apelar ao Supremo. É que o comando do DEM e do PSDB, em rápida reunião, decidiu não propor ação no STF para evitar que, ao analisar a ação, o tribunal decida discutir todo o processo de impeachment, gerando insegurança ao governo.

 

Dilma fala em “até logo”

Se houve realmente o acordo, não detalharam os seus termos à ex presidente Dilma, salva pelos peemedebistas de perder seus direitos políticos. Em pronunciamento logo após ser comunicada do resultado da votação do impeachment, quando 61 senadores votaram pelo seu impedimento, contra os votos de 21 que se posicionaram contra o impeachment, Dilma foi dura nas críticas aos “corruptos” que votaram contra ela. A ex presidente, acompanhada do pequeno grupo de apoiadores, disse que não dava, naquele momento, adeus à vida pública, mas apenas um “até logo”, prometendo exercer uma forte e incansável oposição ao novo presidente. Como a toda ação corresponde uma reação, na rápida reunião que teve com seu ministério depois de empossado, Temer exigiu que todo o grupo não deixe sem resposta as acusações dos petistas e seus aliados. “Não vamos aceitar que falem em golpe. Golpistas são os que não aceitam um processo que seguiu o previsto na Constituição”. O presidente não quer deixar qualquer acusação sem resposta e cobrou, ainda de seus ministros, compromisso com as reformas na Previdência, nas Leis Trabalhistas e também com a política de controle de gastos que será implantada.

 

Temer em Pequim, Maia no Planalto

Para aplacar a ira de tucanos, democratas e até mesmo de alguns peemedebistas com o acordo que suavizou a punição de Dilma, Temer, sem citar nomes, avisou que não vai tolerar a ação dos líderes governistas que fazem acertos políticos sem submetê-los à sua análise. Á noite, com o presidente já em viagem, em cadeia nacional de rádio e televisão, foi apresentado um pronunciamento que ele gravou tão logo foi divulgado o resultado da votação, reafirmando compromisso com as reformas e agradecendo o apoio de sua base. Hoje quem está ocupando o cargo de presidente da República, é Rodrigo Maia, presidente da Câmara Federal, que passa a ser o primeiro na linha sucessória. Temer deve retornar ao Brasil na segunda-feira, depois de participar de reuniões do G20, grupo dos vinte países de maior economia, e de encontros com representantes de vários países. A primeira reunião oficial de Michel Temer será amanhã à tarde, com Xi Jinping, presidente da China.

 

Aposentadoria de Dilma: um choque de realidade

O argumento da senadora Kátia Abreu para que a ex-presidente Dilma não tivesse seus direitos políticos cassados por oito anos, foi o de que ela terá, a partir de agora, que viver com uma aposentadoria de cinco mil reais, e vai precisar trabalhar para melhorar seus rendimentos. Mas não é esse o valor máximo pago aos aposentados brasileiros? A maioria recebe bem abaixo desse valor e tem seus rendimentos corroídos ano a ano, senhora ex-presidente. Bem-vinda de volta ao mundo real.

 

Temer e Renan Calheiros: “tamos juntos”

Michel Temer chegou ao Congresso Nacional para a cerimônia de sua posse em uma Van, acompanhado de alguns de seus ministros. Não subiu a rampa, como tradicionalmente acontece nas posses presidenciais.  Ele entrou pela chapelaria e de lá seguiu para a presidência do Senado. O presidente da Casa, Renan Calheiros, responsável pela divisão da votação de ontem no Senado, permitindo que Dilma Rousseff não ficasse inelegível, cumprimentou Temer com um “tamos juntos”. Mas Temer deixou claro que não gostou da manobra de Calheiros e convocou o senador Romero Jucá, do PMDB de Roraima, para contestar a votação em separado da punição da ex-presidente.

 

Antônio Andrade foi à posse de Michel Temer

O vice-governador de Minas, Antônio Andrade, foi ao Congresso Nacional ontem, acompanhar a posse do presidente Michel Temer. Sorridente, Andrade se misturou aos parlamentares e autoridades que se espremeram no plenário do Senado, mas conseguiu cumprimentar Temer pela posse.  O PMDB de Minas se posicionou favorável ao impeachment de Dilma Rousseff e votou fechado pela abertura do processo na Câmara Federal.

 

Pimentel se diz indignado e repudia a cassação de Dilma Rousseff

O governador Fernando Pimentel lamentou, em nota, o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, decidido ontem no Senado Federal.  Ele se disse indignado e repudiou a cassação sem que “tenha se configurado, de fato, qualquer crime de responsabilidade”. Para Pimentel, “garantir o cumprimento do mandato conferido pelas urnas é compromisso prioritário dos que prezam a democracia no Brasil”. O afastamento coloca em risco, segundo ele, “o direito sagrado dos brasileiros de escolher seus governantes pelo voto livre e direto, direito pelo qual tantos lutaram com sacrifício da liberdade e da própria vida”. Pimentel acredita que a história saberá julgar os personagens desse fato e reiterou sua solidariedade e sua admiração pela ex-presidente.

 

Trinta dias para deixar o Alvorada

Concluído o processo de impeachment pelo Senado Federal e a decretação da perda do mandato, a presidente cassada Dilma Rousseff terá até 30 dias para deixar o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República. Como ex-presidente, Dilma não receberá salário, mas terá direito a oito servidores, sendo dois assessores, quatro seguranças e dois motoristas além de dois carros. Todas as despesas relacionadas à gestão dos servidores e dos dois veículos serão custeadas pela Casa Civil, com recursos do Tesourou Nacional. Atualmente, têm direitos aos mesmos benefícios concedidos à Dilma os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardozo e Luiz Inácio Lula da Silva. Até então único presidente cassado depois da redemocratização, Collor não teve direito a assessores, seguranças e veículos porque respondia a processo penal no Supremo Tribunal Federal. Após ser absolvido, no entanto, Collor requereu e passou a ter direito aos benefícios.  Até a Constituição de 1998, os ex-presidentes tinham direito a aposentadoria vitalícia, conforme lei aprovada durante o regime militar. O benefício foi revogado pela Constituição de 1988.

 

Bolivarianos viram as costas ao Brasil

A Venezuela suspendeu nesta quarta-feira suas relações políticas e diplomáticas com o Brasil e retirou “definitivamente” seu embaixador do país, depois da cassação de Dilma Rousseff. “A República Bolivariana da Venezuela condena categoricamente o golpe parlamentar realizado no Brasil contra a presidente Dilma Rousseff, mediante o qual. Perigosamente, se há substituído ilegalmente a vontade popular de 54 milhões de brasileiros, violando a Constituição e alterando a democracia neste país irmão”, disse o governo venezuelano em nota. Também o presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou que vai chamar de volta o representante do país no Brasil. A informação foi divulgada por meio de seu perfil no Twitter. “Destituíram Dilma. Uma apologia ao abuso e à traição. Retiraremos nosso encarregado da embaixada. Jamais compactuaremos com essas práticas, que nos recordam as horas mais obscuras de nossa América. Toda a nossa solidariedade à companheira Dilma, a Lula e a todo o povo brasileiro. Até a vitória sempre! ”. O presidente da Bolívia, Evo Morales, também por rede social, já havia dito que chamaria seu representante no Brasil de volta, caso o impeachment de Dilma fosse aprovado no Senado Federal. No Twitter, ele escreveu: “Se prosperar o golpe parlamentar contra o governo democrático de Dilma, a Bolívia convocará seu embaixador. Defendamos a democracia e a paz. ”

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