O gestor - é assim que ele prefere ser visto- João Doria (PSDB) assume a prefeitura de São Paulo, neste domingo. Assume com a responsabilidade de ter conquistado a mais surpreendente vitória das eleições de outubro e de ser o símbolo de uma nova geração de homens públicos, gente que tem compromissos reais com a competência e com a eficiência da máquina pública. Dória surpreendeu comum discurso objetivo, franco, sem os vícios da velha política. Elegeu-se em primeiro turno, o que nunca havia ocorrido na disputa paulistana, sem fazer promessas demagógicas nem atacar adversários. Preocupou-se em ser honesto no diálogo com o eleitor, sem a preocupação de ‘criar tipo’. Acabou se transformando, na visão de alguns chamados analistas políticos, e também de adversários, em exemplo maior da ‘guinada á direita’, na política nacional. Rótulo que ele não aceita, garantindo não ser de direita nem de esquerda, mas apenas um gestor com preocupações de bem administrar e atender as necessidades da população. João Dória Jr, que nos acostumamos a ver na televisão como apresentador, terá a partir de hoje a responsabilidade de gerir uma das maiores cidades do mundo. E assume o cargo de prefeito se mostrando diferente: dá crédito ao seu antecessor, e ferrenho adversário na campanha, Fernando Haddad, do PT, afirmando que vai receber uma cidade com as finanças muito bem administradas, diferente da maioria das capitais. Bom começo. Sinal de que não está mais no palanque, embora já tenha seu candidato a presidente da República.
O senhor assume a prefeitura da maior capital brasileira em meio a uma crise política e econômica, que parece não ter fim. Como administrar em meio ao caos? Qual a fórmula para cumprir as promessas de campanha e manter os serviços essenciais para a população?
Agir com eficiência, valorizar o trabalho de equipe, estabelecer prazos e cumprir. A função pública tem que ser gestora, administradora, para que a população compreenda a importância do voto delegado que ela deu ao prefeito, e que o prefeito interprete a importância da responsabilidade que tem, delegada por aqueles que votaram no seu nome e por aqueles que não votaram também.
A crise está se encaminhando, perigosamente, para estabelecer um confronto entre Legislativo e Judiciário. Os episódios envolvendo o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal podem levar o país a uma situação insustentável?
O confronto deve ser evitado. Não é positivo, não é construtivo, não é bom para o país. Ninguém vence. Todos perdem. É estabelecer o diálogo, o diálogo e o diálogo. Conversar, intercambiar, praticar o entendimento é a melhor forma de exercer a democracia no Brasil.
Como garantir emprego e renda para os milhões de desempregados que moram na cidade e para os que migram para São Paulo em busca de uma vida melhor?
Gerando oportunidades e gerando facilidades para que investimentos nacionais e internacionais possam efetivamente ser aplicados em São Paulo. Toda a ação do governo deve ser feita para gerar negócios. Gerando negócios, geramos empregos. Gerando empregos, geramos desenvolvimento social. É assim que nós temos que fazer.
O senhor lançou a candidatura do governador Geraldo Alckmin à presidência da República, mas o senador Aécio Neves mantém o controle do diretório nacional do PSDB. Qual será o caminho para viabilizar a candidatura do governador Geraldo Alckmin?
Eu defendo as prévias para a indicação do candidato do PSDB à presidência da República. As prévias representam o movimento democrático de um partido que foi formado e fundado com bases democráticas e de valores históricos na memória de Mario Covas, de André Franco Montoro, de Fernando Henrique Cardoso, de personalidades que sempre apreciaram os valores da democracia. Portanto, prévias para o PSDB para a indicação do candidato à presidência da República. E para que não haja dúvida, o meu candidato à presidência da República chama-se Geraldo Alckmin.
Os prefeitos podem aproveitar esse momento político para buscar melhorar a renda dos municípios, com a rediscussão do pacto federativo no Congresso Nacional?
Não é um bom momento para isto. O governo federal vive a mesma crise que os governos municipais e estaduais. Não vejo uma atmosfera adequada para iniciar essa discussão agora. No futuro sim.
Mais da metade dos novos prefeitos assume devendo o 13º e sem condições de manter os serviços essenciais. Como desatar esse nó das administrações municipais? Os municípios menores tendem a desaparecer com o atual modelo de gestão?
Não é o caso da cidade de São Paulo. Houve uma gestão eficiente por parte do prefeito Fernando Haddad na parte fazendária e os salários estão em dia, os fornecedores praticamente e a entrega fazendária da prefeitura de São Paulo será correta para o novo prefeito. Tudo é uma questão de gestão. Os que devem ser condenados são os maus gestores. E que não venham pendurar essa conta no governo federal e especialmente na população contribuinte.
Qual deve ser o tamanho do estado brasileiro?
O tamanho da sua eficiência, ou seja, um estado menor consegue ser mais eficiente, mais transparente, mais decente, mais comprometido com os princípios fundamentais da gestão pública: saúde, educação, habitação, transporte público e segurança pública.
Quando saiu o resultado das eleições foi dito que o Brasil deu uma guinada à direita. Na atual estrutura político partidária no país existe essa diferença clara entre direita e esquerda?
Eu pessoalmente não acredito nesta tese ou neste princípio e eu mesmo não me classifico nem à direita, nem à esquerda. Sou um gestor, um administrador. É isso que a população quer. Pergunte a uma pessoa necessitada, a uma pessoa em condição difícil, a uma pessoa em situação de rua, que não tem emprego se ela está preocupada se o administrador da sua cidade, do seu estado ou do seu país é de direita ou de esquerda.
O que deve mudar no sistema político brasileiro?
Avançar no processo democrático, respeitar os poderes e a sua independência, ampliar a transparência na gestão pública e também a solidariedade das pessoas. É importante que a população das cidades, a população brasileira seja solidária também com o país e contribua para que o seu processo de vida seja melhor, contribua ainda no limite da sua capacidade para fazer o seu espaço de vida melhor, mais harmonioso, mais fraterno, mais sincero e mais solidário. Isso também representa uma forma de cidadania.