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Educação: conseguimos universalizar mas sem qualidade

Paulo César de Oliveira
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A educação voltou à pauta principal do brasileiro. É que o governo federal resolveu implementar algumas mudanças, via Medida Provisória, no setor. Antes do governo propor as mudanças, o país já amargava quedas em relação a outros países, até que o resultado do Programa Internacional e Avaliação de Estudantes mostrou mais uma queda do Brasil no ranking mundial, nas três áreas avaliadas: ciências, leitura e matemática. Na prova aplicada em 70 países, o país ficou com a última posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática. O representante do movimento apartidário “Todos pela Educação”, Olavo Nogueira Filho (foto), fala dos gargalos do setor educacional, da descontinuidade dos modelos de ensino em toda mudança de governo e a qualificação inadequada dos professores, o que acabam agravando o quadro de ensino no país.

 

Quais os principais erros que têm sido cometidos pelos governos em relação a educação no Brasil?

O primeiro ponto é o atraso histórico do Brasil em relação ao investimento em educação. Não só com a perspectiva financeira. É preciso entender educação pública para todos como um elemento importante e estratégico. Nós tínhamos em 1970, pelo menos 50% dos jovens em idade escolar, de 5 a 19 anos, fora da escola. Só conseguimos universalizar o ensino fundamental, até os 14 anos, no final da década de 1990. Só que nos EUA, por exemplo, a universalização aconteceu em 1900. Ou seja, no Brasil, a universalização só aconteceu 100 anos depois. É um ponto falho para quem quer que a educação seja um elemento estratégico. Esse é um descaso histórico com a temática da educação.

 

Quando começou a mudar?

Com a Constituição de 1988 muda o cenário e o investimento maciço feito ao longo dos últimos anos, tem alguns avanços importantes. O desafio hoje é o de qualidade, não mais de acesso. Esse atraso fez com que só conseguíssemos solucionar a questão do acesso que é de maneira relativamente rápida, mas o fato é que a qualidade hoje é um grande desafio. Outro ponto tem a ver com os governos federal, estadual e municipal. Quando os governos acertam com as políticas, tem-se o elemento da descontinuidade, que tem interferido muito no avanço consistente. Há avanços consistentes e relevantes na educação básica, quando o elemento da continuidade está mais vezes presente, tendo resultado em quatro ou seis anos, quando entra em mais um ciclo de gestão.

 

Se os professores tivessem uma formação melhor essa descontinuidade do método de um governo para outro teria menos impacto?

Esse é o ponto chave. As pesquisas internacionais, de modo geral, colocam de maneira bastante clara, que quando consideramos os fatores que estão por conta da escola, duas variáveis impactam no rendimento dos alunos. Um deles tem relação com as atividades extra escola e aí entra a escolaridade dos pais, principalmente da mãe, nível sócio econômico. O outro é a formação do professor. A estrutura que o país oferece para os docentes, é uma estrutura que não prepara e não apoia o professor para a sala de aula. Ser um bom professor não é trivial. É uma atuação que depende de uma série de acontecimentos, como o de dominar o conteúdo em si, dominar o conteúdo que leciona, conhecimentos relacionados à didática, a como ensinar o conteúdo e questões relacionadas a como o aluno aprende e como o professor deve intervir e motivar o aluno. Tudo isso faz parte do repertório que um bom professor precisa ter. Um dos erros em que o país tem insistido é em tratar de forma superficial a atuação do docente, de tratar o professor como algo não profissional, que não precisa de um rigor científico por trás. Sair desse discurso vocacional e de ter talento para uma profissão em que se requer uma boa remuneração, um bom preparo, principalmente com teoria e prática bem relacionadas, uma profissão que tenha uma carreira em que induz e incentiva o crescimento profissional. Nessa temática nós ainda temos muito no que avançar.

 

Estão surgindo muitas críticas em relação as mudanças promovidas na educação pelo governo Temer. Qual o impacto dessas mudanças?

Há duas principais mudanças em debate, a reforma do ensino médio e na base nacional curricular. Essas duas políticas são importantes? São. Ter uma base nacional comum é importante para a expectativa de aprendizagem das crianças, definidas e tiradas em consenso no âmbito nacional. Os países conseguem avançar com bons resultados em seus projetos de educação. Esse ponto já estava presente no plano nacional de educação e ao longo dos últimos anos foi amadurecendo a convicção em relação a importância dessa universalização. O grande desafio brasileiro é o da desigualdade. Mas se bem implementada, pode render resultados importantes para a educação brasileira. Em relação ao ensino médio, o caminho, de modo geral,- há uma discussão em relação a como a temática foi introduzida por meio de Medida Provisória – está alinhado com parte da pesquisa, que aponta que o ensino médio está muito distante e descolado dos jovens, em termos de interesse, de projeto futuro, o que está fora da escola, o que está dentro da escola e coloca o ensino médio em xeque. Tanto é que, várias questões relacionadas ao mau desempenho do ensino médio, acabam desembocando nesta falta de atratividade do modelo. A reforma curricular, mais do que qualquer coisa, visa encaminhar essa questão da efetividade, o aumento do ensino integral, que atenda a outras questões que tratam do modelo tradicional de escola. O ponto chave nas duas questões é a implementação. Como a base traduzirá em currículos, a base é um disparador e um indutor de propostas curriculares, desses currículos, que são construídos em âmbito estadual ou municipal, é que as escolas desenvolvem seus projetos pedagógicos. Mas para que isso chegue em sala de aula, volta ao primeiro ponto, que é o professor. Não haverá uma mudança transformadora na educação brasileira, se a figura do professor não for o elemento estratégico do projeto de educação. O mesmo vale para o ensino médio.

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