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Para ministro, universalidade com integralidade é impossível

Paulo César de Oliveira
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O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que “80% dos exames de imagem no SUS (Sistema Único de Saúde) têm resultado normal” e que isso representa “desperdícios que precisam ser controlados”. Barros participou ontem pela manhã, em Cambridge (EUA), da Brazil Conference, evento sobre o Brasil organizado pela Universidade Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT). Em apresentação e posteriormente em entrevista à BBC Brasil, defendeu a necessidade de controlar a prescrição de exames. “Temos que ter controle da demanda que os médicos fazem destes exames e passar a avaliar como utilizam sua capacidade de demandar do SUS. Se o médico solicita muitos exames que dão resultado normal, ele não está agindo de forma correta com o sistema”, afirmou Barros (foto) à agência BBC Brasil. Segundo o ministro, exames de imagem (como tomografias e ultrassonografias) que não identificam problemas ou doenças sugerem que os médicos não estariam fazendo diagnósticos clínicos de forma correta. Questionado se os exames precisam revelar problemas para serem considerados necessários, Barros disse que não quer interferir na capacidade de tomada de decisões dos médicos. “Mas os médicos não podem pedir exame como forma de transferir sua responsabilidade de emitir diagnósticos. Os exames só devem ser usados quando há necessidade, não como rotina para diminuir a responsabilidade que o médico tem de fazer um diagnóstico a partir dos elementos clínicos.”

 

Tudo para todos é impossível

O ministro disse ainda que os médicos da rede pública não estão atentos aos custos dos procedimentos que solicitam para seus pacientes. “Temos muitos problemas em ajustar o médico como uma peça do sistema, e não como o centro do sistema. O médico tem uma visão que é fruto do compromisso que faz quando se forma, que é estar acima da questão pragmática, dos recursos.” Na entrevista `BBC ele explicou a crítica que fez. “Ao médico, cabe solicitar os meios para salvar uma vida, e ao gestor cabe disponibilizar aqueles que são possíveis de serem disponibilizados. A integralidade não pode ser o ‘tudo do SUS para todos’. Eu sou gestor do SUS. Enquanto for tudo para todos, infelizmente, será uma tarefa impossível.” O ministro afirmou ainda que a ideia de integralidade (oferta irrestrita de exames e tratamentos) na rede pública atrapalha a universalidade (atendimento a todos os brasileiros) no SUS.

 

Enxugar custos do sistema

Desde que assumiu o cargo, em maio de 2016, Barros, que é deputado federal licenciado pelo PP do Paraná, vem defendendo o enxugamento de gastos do SUS, já que em algum momento o país não teria mais como bancar direitos que a Constituição garante, como acesso universal à saúde. Nesse sentido, já se manifestou, por exemplo, a favor da criação de planos de saúde “populares”, mais baratos por oferecerem menos serviços do que a cobertura mínima prevista pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), Seria, segundo ele, uma forma de desafogar o sistema público e contribuir com o financiamento do SUS. “É a integralidade, que é o atendimento integral do cidadão, contra a universalidade. O atendimento integral retira recursos que têm que ser aplicados no atendimento a todos os demais”, afirmou nos EUA.

 

Publicidade e eficiência

Em sua fala de abertura, Barros disse à plateia formada também por médicos, defensores públicos, advogados e gestores de serviços de saúde que sua pasta preza pelo investimento em publicidade. “Publicidade e eficiência são as marcas da minha gestão”, disse, sem informar valores. Um dos principais projetos anunciados por Barros é a informatização do sistema público de saúde, proposta antiga, mas nunca implantada no país. “Investimos por ano US$ 230 bilhões em serviços públicos de saúde no Brasil. Espero que, quando completada a informatização, economizemos 20% desses recursos, porque o médico, tendo todo o histórico de saúde do paciente, terá mais clareza nos diagnósticos.”

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