Fortemente influenciado pela agropecuária, o Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, cresceu 1% no primeiro trimestre do ano, comparado ao quarto trimestre de 2016, na série livre de influências sazonais. Esta foi a primeira alta na comparação, após dois anos consecutivos de queda. Os dados foram divulgados ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e indicam, porém, que apesar da alta, o PIB caiu 0,4% quando comparado ao primeiro trimestre do ano passado, enquanto o resultado acumulado dos quatro últimos trimestres terminados agora em março registra queda de 2,3% – portanto, o acumulado dos últimos doze meses, em relação ao período imediatamente anterior. Os dados evidenciam o forte crescimento da agropecuária, que fechou o primeiro trimestre do ano com alta de 13,4%, uma vez que a indústria teve expansão de 0,9% e o setor de serviços fechou estável entre um período e outro (0,0%). Segundo o IBGE, em valores correntes, o PIB encerrou o primeiro trimestre do ano em R$ 1,6 trilhão. A taxa de investimento no primeiro trimestre foi de 15,6% do PIB, abaixo da observada no mesmo período do ano anterior (16,8%). A taxa de poupança foi de 15,7% ante 13,9% no mesmo período de 2016.
PIB cai 0,4% em relação ao 1º trimestre
A queda de 0,4% no PIB do primeiro trimestre do ano, quando comparado ao mesmo trimestre de 2016, constitui o décimo segundo resultado negativo consecutivo nesta base de comparação. Na mesma base, o valor adicionado a preços básicos teve variação negativa de 0,3% e os Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios recuaram 0,8%.Dentre as atividades que contribuem para a geração do valor adicionado, a agropecuária cresceu 15,2% em relação a igual período de 2016; a indústria sofreu queda de 1,1% e o valor adicionado de serviços caiu 1,7%.Segundo o IBGE, pelo oitavo trimestre consecutivo “todos os componentes da demanda interna apresentaram resultado negativo na comparação com igual período do ano anterior”. Mesmo com o crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre deste ano, no mesmo período a Despesa de Consumo das Famílias caiu 1,9%. “Esse resultado pode ser explicado pelo comportamento dos indicadores de crédito e mercado de trabalho ao longo do período”, justificou o IBGE.
PIB anualizado
Mesmo com o crescimento de 1% no primeiro trimestre – comparativamente ao quarto trimestre do ano passado – no resultado acumulado nos quatro trimestres terminados em março último (o PIB anualizado) a economia brasileira recuou 2,3% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. Esta taxa resultou da contração de 2,1% do Valor Adicionado a preços básicos e do recuo de 4,1% nos Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios. O resultado do Valor Adicionado neste tipo de comparação decorreu dos seguintes desempenhos: agropecuária (0,3%), indústria (-2,4%) e serviços (-2,3%).
A euforia sem limite do presidente
O presidente Michel Temer comemorou, em mensagem no Twitter, o crescimento de 15 por cento da economia brasileira no primeiro trimestre de 2017, e disse que o número é resultado das medidas do governo. “Acabou a recessão!”, escreveu o presidente. “O Brasil voltou a crescer. E com as reformas vai crescer ainda mais”. Já o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, bem mais comedido, afirmou que a economia brasileira ainda precisa percorrer um caminho para alcançar a plena recuperação. “Ainda há um caminho a ser percorrido para alcançarmos a plena recuperação econômica, mas estamos na direção correta”, disse Meirelles por meio de nota. O ministro também afirmou que o crescimento da economia neste início de ano é uma comprovação de que o processo de perda de confiança na economia brasileira já mudou.
Economista da Fecomércio MG recomenda cautela
A euforia do ministro da Fazenda Henrique Meirelles e do presidente Michel Temer com o crescimento do PIB no primeiro trimestre não é compartilhada por todo setor produtivo. O economista da Fecomércio MG, Guilherme Almeida, entende que é preciso olhar para esses números com cautela, por entender que ainda há uma incerteza muito grande no cenário político e econômico, com a agenda de reformas em xeque. Além de não ter sido observada uma recuperação disseminada em todos os setores. Por isso, entende que não é possível dizer que saímos da recessão. Mesmo com essa análise, Guilherme Almeida considera que o crescimento é extremamente importante, pois quebra a sequência de resultados negativos.
Calma. A história não é bem assim …
Mas pelo visto, toda a cautela ainda é pouca. O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, por exemplo, também não compactua com o mesmo entusiasmo do presidente Temer. Para Schwartsman, os resultados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vieram, no geral, bons, mas a crise política pode atrapalhar o cenário de recuperação da economia. Segundo ele, se o imbróglio em Brasília se prolongar, a expansão do PIB pode ficar perto de zero em 2017. O ex-diretor do BC, adverte que enquanto não se souber se o presidente Michel Temer fica ou não no Planalto, o ambiente de incerteza vai afetar os negócios. Para Schwartsman, sem a crise política havia chances até de elevar a projeção de PIB para 2017. Mas, com a turbulência, a possibilidade agora passou a ser de piora dos números.