Foram três anos de trabalho intenso, de muito esforço para colocar um dos maiores patrimônios dos mineiros de volta aos trilhos. A Usiminas, em seus 61 anos, recupera o seu prestígio no cenário nacional, volta a investir e a gerar emprego. As exportações para o mercado asiático também voltaram à agenda e a siderúrgica tem planos para alçar voos ainda mais altos. O responsável por essa recuperação é Sérgio Leite (foto), presidente da Usiminas, que conta com uma equipe afinada, que trabalha em sintonia, pensando em resultados. A sua meta é a de fazer com que a empresa volte a ser o sonho de emprego de muitos jovens e um orgulho para mineiros e brasileiros.
Depois de tantas turbulências, a Usiminas reencontrou o seu caminho e está no rumo certo?
Nós atravessamos três anos delicados para a empresa. Nesses três anos passamos por três fases: numa primeira fase, durante 2015, nós tivemos uma deterioração dos nossos resultados e chegamos aos primeiros meses de 2016 em uma situação extremamente crítica, inclusive com risco da empresa entrar em recuperação judicial. Para eliminar esse risco nós fizemos um aumento de capital no valor de R$ 1 bilhão e renegociamos as nossas dívidas com os bancos, assinando um acordo de reescalonamento da dívida por 10 anos, a partir de setembro de 2016, com três anos de carência. O aporte de capital foi feito pelos maiores acionistas com ações ordinárias da Usiminas, que são as ações com direito a voto. O maior acionista da Usiminas, o grupo Tchint fez o maior aporte, em seguida o grupo Nippon também aportou uma soma significativa em função das ações que o Grupo possuía e o terceiro acionista que também entrou com uma soma importante de capital foi a CSN, que, inclusive, é concorrente. Esses três acionistas trabalharam juntos para evitar que a Usiminas viesse a ter que pedir recuperação judicial. Neste momento, que era extremamente crítico para a Usiminas, em que nós não estávamos gerando resultado, o grande problema, que a empresa tinha era exatamente de gerar resultados. Para enfrentar esse desafio nós, a partir de maio de 2016, começamos com um intenso trabalho na Usiminas, mobilizando toda a equipe, criamos o que nós chamamos de Grupo dos 10, um grupo composto por 15 profissionais experientes, capacitados, que ocupam posições importantes em todas as áreas da empresa.
Como esse trabalho se desenvolveu?
Esse grupo passou a ser o núcleo central de trabalho na empresa. Esse trabalho foi se refletindo em centenas de equipes na Usiminas. Nós tínhamos, naquele momento, era final de maio de 2016, nós tínhamos uma única meta na empresa: essa meta era gerar R$ 100 milhões de Ebitda, como média mensal a partir de junho e até dezembro de 2016. Nós concentramos todo o nosso esforço na geração de resultados, porque estávamos com uma geração acumulada nos 12 meses anteriores negativa e isso para uma empresa é fatal. Trabalhamos intensamente. Em seguida, no terceiro trimestre, nós já cumprimos essa meta e ao longo dos últimos 12 meses, nos últimos quatro trimestres, nós sempre fomos apresentando bons resultados. Nós tivemos o melhor resultado dos últimos três trimestres. É o nosso melhor resultado nos últimos três anos e um trimestre, fruto do trabalho da Usiminas em todas as áreas. A essência desse trabalho é reduzir custos e aumentar receita, para gerar margem para a empresa. Hoje a Usiminas já está em outro patamar. Nós ainda temos um longo caminho a percorrer, mas nós estamos preparados, temos uma equipe competente, mobilizada, trabalhando todos juntos. Nós ficamos durante um ano com foco em geração de resultados. Agora nosso trabalho tem outros três focos importantes: resultado é um deles, o foco nos clientes, que é extremamente importante, para melhorar o nosso atendimento, criar diferenciais em relação à concorrência, mobilizando toda a empresa para atender o cliente, para que nós possamos nos posicionar cada vez melhor no mercado. Nós somos o líder no mercado brasileiro em aços planos, mas o nosso sonho é o de voltarmos a ser referência no mercado brasileiro de aços planos, em termos de qualidade, serviços, como atendimento, e, acima de tudo, sendo uma referência no coração das pessoas, da admiração que a Usiminas sempre despertou nos mineiros e nos brasileiros. Nós temos 61 anos de existência e trabalhar na Usiminas foi sonho de muitos jovens. Foi meu sonho há 40 anos e nós queremos que a Usiminas seja esse sonho para os jovens da geração atual. Estamos em um novo momento da Usiminas e temos um longo trabalho a realizar.
A situação política e econômica e brasileira tem afetado a Usiminas nesse processo de recuperação?
Nós estamos vivendo uma crise delicada. Mas o nosso foco principal é na economia e nós observamos que no Brasil, a cada dia, a economia vai se desconectando, de certa forma, da política. A política tem os seus problemas e a economia também tem os seus desafios, os seus problemas e precisa trabalhar. Em termos de economia no Brasil nós tivemos três anos de forte recessão e esse foi o período mais difícil da história do Brasil. No final do ano passado, após ficarmos três anos com o PIB caindo e afetando os nossos negócios, parou de cair e essa estabilidade foi verificada a partir do primeiro trimestre deste ano e estamos passando por um período de estabilidade da economia, apesar das turbulências. Essa estabilidade apresenta um pequeno viés de crescimento, mas esse crescimento, se vier, não será agora. A nossa expectativa é a de que venha a partir de 2018. Mas a grande ação da Usiminas é que internamente não discutimos crise, nós não discutimos o quanto a crise afeta os nossos negócios. O foco da nossa discussão é o que nós podemos fazer dentro da Usiminas para enfrentar a crise, para dinamizar os nossos negócios, para melhorar os nossos resultados e a equipe Usiminas tem atuado de forma criativa, de forma comprometida para, apesar de toda crise política e econômica, nós seguimos em um patamar onde possamos construir resultados a partir das ações de dentro da empresa. Não ficamos dependendo de conjuntura política e econômica. A nossa geração de Ebtida se for comparar o segundo trimestre de 2017 com o segundo trimestre de 2016, ela cresceu 10 vezes. Dentro dessa conjuntura econômica é um resultado muito bom, um resultado fascinante.
Quais as projeções da Usiminas em termos de investimentos e contratações?
Posso afirmar que nesses três anos em que passamos por uma fase difícil, nós tivemos que ajustar a estrutura da empresa a uma realidade de negócios. Nesse período nós tivemos saída de pessoal. Agora o que eu posso garantir é que a Usiminas voltou a ser uma geradora de empregos em Minas Gerais. Temos dois exemplos concretos: no mês de maio nós decidimos pela reativação do alto forno número 1 de Ipatinga. Para essa reativação nós teremos que fazer um trabalho que estará pronto para entrar em operação em abril de 2018. Para essa operação, nós vamos contratar, no início de 2018, pelo menos 120 pessoas. São empregos fixos. Nessas obras que nós já estamos iniciando de reativação do alto forno, nós estamos contratando cerca de 400 pessoas, são empregos temporários que vão acontecer ao longo da obra. Isso na região do Vale do Aço e em Ipatinga. Outro exemplo envolve a região de Itatiaiuçu, onde nós temos as minerações Usiminas. Nós somos cinco empresas: Usiminas, Usiminas Mecânica, Soluções Usiminas, Minerações Usiminas e Unigal. Em Itatiaiuçu nós temos a empresa Minerações Usiminas. Lá nós estamos, neste mês, reativando uma de nossas unidades de produção. Já reativamos uma mina para extração de minério de ferro e nós vamos voltar a exportar. Nos últimos trimestres ficamos fora do mercado internacional e agora nós vamos voltar a exportar. Também fizemos um acordo com o Porto Sudeste, em Itaguaí, e para essa operação de volta à exportação nós, neste ano vamos exportar 800 mil toneladas de minério e para o ano que vem vamos exportar mais de três milhões de toneladas de minério.
Para qual mercado?
O mercado é a Ásia, principalmente a China. Só para essa operação nós contratamos cerca de 400 pessoas. Não são empregos temporários, são fixos. Nós voltamos a gerar empregos em Minas Gerais. Hoje a Usiminas está em um patamar em que ela volta a gerar empregos, está mobilizada, trabalhando de forma integrada em todas as suas áreas, construindo a cada dia o futuro. Nós temos centenas de ações em curso para reduzir custos e melhorar a receita e estamos preparando para o crescimento, que esperamos que ocorra de forma mais efetiva no país nano que vem. No primeiro semestre nós investimos R$ 57 milhões. Para o segundo trimestre nós vamos investir mais cerca de R$ 200 milhões. Quando nós fecharmos o ano, nós vamos ter investimentos entre R$ 250 milhões a R$ 300 milhões, investimentos maiores do que no ano passado, quando fechamos com R$ 222 milhões.
Para 2018 qual a previsão de investimentos?
Nós estamos iniciando as discussões para o orçamento do ano que vem e ele deve ficar pronto em novembro, e então vai para a aprovação do Conselho de Administração. Mas posso afirmar que em 2018 nós vamos investir mais do que em 2017. No nosso orçamento neste ano e em parte do ano que vem, o maior investimento é com o retorno do forno número 1, que é um investimento de R$ 80 milhões. Desse total, serão investidos R$ 25 milhões neste ano e R$ 55 milhões no primeiro semestre de 2018. Como todas as indústrias brasileiras, estamos trabalhando com uma capacidade ociosa elevada. Todos os nossos investimentos hoje estão pulverizados, e são ações na manutenção na capacidade produtiva, com todos os equipamentos funcionando bem em todas as áreas.
Com o Congresso Nacional encerrando a discussão em relação as investigações do presidente Michel Temer, a situação no país tende a se normalizar?
A nossa visão em relação ao cenário político é positiva. Agora é trabalhar na reforma da Previdência, que já está adiantada, e temos ainda a reforma tributária e a política. São reformas extremamente importantes. O ministro Henrique Meirelles disse que o governo vai trabalhar intensamente nessas reformas e ele destacou a da Previdência, que é a mais impactante. Estamos confiantes de que o Brasil acorde e avance nas reformas. Nós precisamos gerar emprego, de gerar renda. Nós precisamos trazer de volta ao Brasil o cenário do desenvolvimento. Para Minas Gerais é importante a Usiminas estar ativa, atuante, trabalhando fortemente. Passei a semana inteira com a direção da Usiminas no Vale do Aço e fizemos 21 encontros com a comunidade local, com nossos empregados, com os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e também com empresários. Nós fomos prestar contas aos nossos empregados e à comunidade, do trabalho realizado pela nossa equipe e, nos encontros, usei uma frase do eterno presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, dita por ele em um discurso nos anos 90. As palavras dele estão mais atuais do que na época. A frase sintetiza tudo: “ o que mais ardentemente desejamos é que tudo dê certo, que nossos sonhos se realizem, decepcionando os incrédulos e pessimistas”.