O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Roberto Barroso (foto), fez ontem duras críticas ao sistema político-partidário brasileiro e afirmou que hoje ele representa uma institucionalização da desonestidade no país. Barroso, que defendeu “desesperadamente” a aprovação de uma reforma política no país, concentrou seu ataque ao sistema partidário na pulverização de partidos no país, na existência das chamadas legendas de aluguel e na venda de tempo de TV para outros partidos em troca de recursos e cargos no governo. Para ele, o sistema eleitoral brasileiro, através do voto proporcional com lista aberta e coligações, é caro, tem baixa representatividade e facilita a multiplicação de legendas, o que ele chamou de “um sistema político atomizado”. “O sistema partidário brasileiro hoje é institucionalização da desonestidade, porque os partidos vivem do acesso e distribuição do fundo partidário, por legendas que têm dono e da venda do tempo de TV em troca de favores”, disse Barroso em evento da Confederação Nacional de Empresas de Seguros, Previdência Privada, Vida e Saúde Complementar.
Ainda não dá para virar a página da corrupção
Barroso reforçou durante sua palestra de mais de uma hora sua simpatia pelo voto distrital misto – no qual o eleito vota em um candidato no distrito e também em uma lista dos partidos – por considerar que o regime é mais barato, valoriza as legendas partidárias e aumenta a ligação entre políticos e eleitores. O ministro se mostrou pessimista com a possibilidade de melhorias no sistema eleitoral brasileiro para as eleições de 2018 e considera interessante haver uma mobilização da sociedade para haver aperfeiçoamentos para o pleito de 2022. “O grande problema da reforma política é que, para ser feita de maneira democrática, depende do voto das pessoas que vão ser afetadas pelas mudanças que vão ser feitas”, analisou. Barroso acredita que o sistema político brasileiro deficiente é um canal para a expansão da corrupção no país. Sem citar nomes ou instituições, Barroso acrescentou que a história da corrupção ainda não foi totalmente escrita no país e, por isso, essa página não pode ainda ser virada na sociedade brasileira. ”Se não mudarmos o sistema político não nos livraremos da corrupção associada à política e não atrairemos novas ideias e pensamentos na política que está precisando de gente que não esteja vinculada à velha ordem”, analisou. “O Brasil precisa desesperadamente de reforma política e é triste constatar que ela não vai sair porque ao lado da impunidade o sistema político é a causa de boa parte da corrupção que ainda enfrentamos”, finalizou.