Minas já não há. E agora José?, pergunta Carlos Drummond de Andrade no poema “ E agora, José”. Minas, politicamente, já não há. E agora, perguntam os mineiros, sem saber bem a quem dirigir a indagação. Há um enorme vazio político no estado que já foi o ponto de equilíbrio do país. As crises e as soluções sempre passaram por Minas. Hoje – não é bem de hoje, não-, apenas as crises. O estado está alijado das grandes decisões nacionais, na prática desde a morte de Tancredo, embora Itamar Franco tenha tentado ocupar os espaços. Sobrou voluntarismo, faltou-lhe equilíbrio para ser uma liderança. O episódio da venda das usinas da Cemig deixou exposto o problema da falta de lideranças políticas no estado, mesmo sendo sua bancada a segunda maior do país. Nossos parlamentares não se fizeram respeitar pelo governo federal. Nossos governantes agiram com tibieza e atraso. A reação atual de um grupo que se intitula como frente em defesa dos interesses da Cemig, tem cheiro de demagogia. Os que militam nesta frente são os mesmos que, lá atrás, ajudaram Dilma a aprovar a Medida Provisória que desarticulou o sistema elétrico brasileiro. A Cemig está pagando o custo desta desarticulação que, dizia-se, iria levar à redução do custo da energia. Tratava-se, na prática, de uma peça da campanha eleitoral da reeleição de Dilma. Eleitoralmente surtiu efeito. Muitos que se apresentam agora como defensores da Cemig – curiosamente em ano pré eleitoral também- ajudaram a construir o cadafalso no qual a empresa foi enforcada financeiramente. Não se cobra aqui uma rebelião da bancada mineira contra o governo federal, como alguns mais pirotécnicos andam pregando. Anunciar que a bancada não irá mais votar assunto de interesse do Planalto é, ao contrário do que querem fazer parecer, um ato de confissão de subordinação ou de existência do balcão de negócio. A bancada, e nenhum deputado isoladamente, deve mesmo votar matérias de interesse do governo ou do presidente. Deve votar de acordo com os interesses do país, às vezes até contrariam suas bases. Sei que pedir isto é utopia. Mas é assim que deve ser sempre. Clama-se não por heróis montados em pangarés de rodinha, como surgem agora, para a defesa de Minas, mas por líderes que saibam articular, que consigam fazer consensos, possíveis muito mais nos bastidores do que diante de câmeras e microfones. Que a derrota de Minas no episódio Cemig sirva de exemplo. Minas precisa voltar a fazer política. Bravatas, ainda mais fora de hora, não resolvem nada.