Ao discursar ontem na 8ª Cúpula das Américas, realizada em Lima, no Peru, o presidente Michel Temer destacou a importância do tema escolhido para o encontro deste ano: o combate à corrupção. O presidente ressaltou que “não se pode tolerar a corrupção” e que o combate aos desvios de conduta e da função pública é “imperativo da democracia”. “É na democracia que temos transparência. Uma imprensa livre e uma opinião pública vigilante, capazes de fiscalizar sem trégua, como deve ser, as ações do poder público. É na democracia, afinal, que temos estado democrático de direito”, disse. Ao defender os princípios da democracia, Temer (foto) citou o caso da Venezuela, que enfrenta uma crise política e econômica. O presidente brasileiro voltou a defender o espírito de cooperação entre os países vizinhos e disse que “não há espaço em nossa região para alternativas à democracia”. Temer também prestou solidariedade ao Equador, pelo assassinato de jornalistas equatorianos sequestrados enquanto faziam uma reportagem sobre a insegurança no país. Ele classificou o episódio como “mais um inaceitável ato de violência”. “Condenamos, nos mais fortes termos, esse atentado contra a vida, contra a liberdade de expressão. Nossa mais sentida solidariedade às famílias das vítimas, ao povo equatoriano e ao presidente Lenin Moreno”, disse Temer.
Guerra na Síria já dura tempo demais, com perdas humanas demais
O presidente Michel Temer pediu, na Cúpula das Américas, o envolvimento das Nações Unidas em uma solução duradoura, baseada no direito internacional, para o conflito na Síria e afirmou que o uso da força não resolve. “Há uma profunda preocupação no nosso país com a escalada do conflito militar na Síria. Já é passada a hora de encontrarmos soluções duradouras baseadas em direito internacional. Uma guerra que se estende já há tempo demais, com perdas humanas demais”, disse Temer. Falando a jornalistas brasileiros antes de embarcar de volta ao Brasil, o presidente acrescentou que a solução para a Síria não pode vir “apenas pela força. A conversação, a via diplomática e o convencimento são fundamentais para isso”. Temer evitou condenar diretamente o ataque ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a bases militares do país do Oriente Médio, apoiado pela Grã Bretanha e a França. Segundo Temer, a notícia na noite de sexta parecia mais “aflitiva”, mas que a informação na manhã de ontem mostrava que o ataque havia sido restrito. O presidente condenou o uso de armas químicas por parte do governo sírio e pediu o engajamento da comunidade internacional em uma solução definitiva. “Essas questões devem ser resolvidas com base no direito internacional. Por isso é importante que as Nações Unidas entrem nessa questão para resolver o conflito. Não se pode deixar isso quase eternamente, como vem acontecendo, prejudicando as ações internacionais e a região”, afirmou.
Para o Brasil solução síria precisa ser negociada
Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, afirmou que o Brasil repudia o uso de armas químicas mas está preocupado com o aumento das ações militares na Síria e defende uma solução política para a guerra civil naquele país. “Estamos muito preocupados com o aumento das ações militares na Síria, assim como já estávamos, reitero, muito preocupados com as graves denúncias de ataques químicos”, disse o ministro a jornalistas em Lima, onde participa da Cúpula das Américas. Forças norte-americanas, britânicas e francesas bombardearam a Síria com mais de 100 mísseis nesse sábado nos primeiros ataques ocidentais coordenados contra o governo de Damasco, tendo como alvo o que chamaram de centros de armas químicas em retaliação a um ataque com gás venenoso, que acusam ser de responsabilidade do governo sírio. “Aguardamos a conclusão o mais rápido possível das investigações no âmbito da Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas), para que se possa punir os responsáveis”, acrescentou Aloysio Nunes. “O Brasil defende uma solução política negociada pelos sírios que preserve a unidade territorial do país.” O ministro disse ainda que entrou em contato com o pessoal diplomático brasileiro na capital síria, Damasco, e que “não houve danos colaterais”. Questionado se isso tirava importância da cúpula de Lima, o ministro brasileiro disse acreditar que não seja o caso. Mas diplomatas brasileiros ouvidos pela Agência Reuters afirmaram que o ataque tira a atenção de uma cúpula já esvaziada pela ausência do próprio Trump, e as dificuldades de tratar de temas centrais para a região, como a crise na Venezuela. Em nota, o Itamaraty manifestou “grande preocupação” com a escalada do conflito militar e repetiu a fala de Temer e Aloysio, afirmando que a solução para a Síria passa pela Carta da ONU e pelo direito internacional. “O Brasil reitera o entendimento de que o fim do conflito somente poderá ser alcançado pela via política, por meio das tratativas sob a égide das Nações Unidas e com base nas resoluções do Conselho de Segurança”, diz o texto.