Então façamos assim: vamos nos unir em torno daquilo que nos une e vamos deixar para trás o que nos separa. Simples assim. O problema é que para alcançarmos isto, necessário é muito despojamento, muito altruísmo, postergando o sonho do Poder pelo bem do país. Quem precisa dar o exemplo é exatamente quem, eventualmente, detém o Poder. Ou seria apenas o mando? O presidente Bolsonaro precisa, como sugerido a ele na edição de ontem do blog, dar uma passada d’olhos pelo manual de sobrevivência para os que se perdem na selva: pare, descanse, busque orientação e só então retome a caminhada. No caso do presidente, convenhamos, não é retomar, é iniciar a caminhada. Bolsonaro chegou à Presidência da República no susto. É, guardadas as distâncias, uma repetição do fenômeno Collor de Mello que, como Bolsonaro, também se elegeu pelo não e por uma retórica agressiva, alimentando a ilusão do brasileiro de que tudo é possível quando se encontra um paizão. Não construiu ainda o carisma para liderar, muito embora saiba tocar o bumbo, ou a gaitinha, para formar um bando de seguidores que, como mostram as pesquisas, têm se dispersado a cada esquina, desiludidos com a não solução do problema. Líderes são forjados nas adversidades, indicando soluções que, sempre, exigem sacrifícios. Líderes não são como ervas que brotam em qualquer canto. Não brotam assim aos borbotões, embora tenham o estranho hábito de surgir no pântano da vida política, no vazio de esperança e de ideias que pedem alguém capaz de ditar o norte, admitindo a imposição de dificuldades, sem prometer o paraíso na primeira curva. Até aqui, convenhamos, nosso presidente não tem conseguido ser esta figura, até pela enorme incapacidade de conviver com os contrários. Incapacidade que terá que superar, pois cabe aos líderes dar o exemplo, buscar os apoios dos que, sem a responsabilidade de governar, fazem o discurso demagógico dos que buscam, não viabilizar as soluções que o país cobra, mas o caminho do palanque das próximas eleições. No nosso caso, o pior é que a oposição, tão perdida quanto o presidente, não encontra nem as picadas que possam levar ao palanque onde, infelizmente, já está Bolsonaro. Dizem que por uma estratégia política de chamar para si a atenção dos críticos, deixando aberto o caminho a quem realmente trabalha, e sabe o que está fazendo, a equipe econômica. Pode ser, mas não está funcionando muito. O presidente tem sido mau ator e vai criando arestas que, com o aproximar da disputa municipal de 2020, podem ficar insuperáveis. O discurso muito ideológico, além de antigo, não é capaz de atrair mais do que os convertidos, Radicaliza a disputa, divide o país, mas costuma não dar tantos votos quanto se pensa. É hora de alguém avisar o presidente que o voto do não o elegeu. Quem pode reelegê-lo é o voto do sim, do sucesso de uma política capaz de levar à retomada do crescimento e com ele, do emprego, da renda e do bem estar. As propostas de reforma estão certas. Ninguém, exceto os de sempre, discute a necessidade de realizá-las. Mas a sustentabilidade delas depende de convergências não de atiçar o povo contra o povo.