Qual Lula é, politicamente, mais importante para Lula e para o PT neste momento? Lula livre ou Lula presidiário? Esta é a dúvida de muitos, uma dúvida que incomoda e muito, pois significa o futuro de ambos. Não são poucos os petistas que, no silêncio, carregam o dilema sobre o que defender. Antes ferrenhos tocadores de bumbo da imediata liberdade do ex- presidente, figuras importantes no partido além, é claro, de militantes de todos os naipes, hoje questionam o resultado político da liberdade. O que incomoda aos que vivem a dúvida é a possibilidade de Lula não ter mais representatividade expressiva. Não empolgar massas como fazia antes, tanto como sindicalista quanto como político. Esvaziado pela condenação e a cadeia, o ex- presidente perderia o discurso e os apoios. Sem força política, seria apenas mais um condenado a bradar inocência. Não teria mais capacidade de influenciar decisões políticas e jurídicas, com consequências imprevisíveis sobre o seu futuro e o resultado do julgamento das ações que, direta ou indiretamente, refletirão sobre o seu futuro pessoal e político. Para o PT seria um desastre descobrir que nas ruas, seu líder maior não mobiliza, não polemiza, não atrai. Única figura de, ainda, expressão nacional na legenda, Lula não pode morrer politicamente. O risco de pô-lo nas ruas, diante do eleitor, é seus antigos seguidores descobrirem que o rei está nu. Já não tem peso, não seduz nem atrai seguidores. Mais, descobrir o vazio de um discurso sustentado por décadas. E este, por menos que concordem os xiitas, é um risco real. É fácil se perceber que Lula, aos poucos, vai deixando de ser assunto. Se não fosse por insistência da imprensa e o abuso das redes sociais, suas opiniões não teriam qualquer repercussão. Lula hoje, e isto é lamentável, desperta muito mais curiosidade na população do que inconformismo com sua condenação. Parece até que ela foi assimilada e, ruim para ele e para o país, considerada justa. Há quem discorde, mas o provável esvaziamento de Lula é ruim para a política nacional. É verdade que ele nunca chegou a ser um grande líder, mas teve, inegavelmente, capacidade de mobilização. Seria um importante contraponto no momento político brasileiro onde, para se sustentar, o grupo hoje dominante busca radicalizar os antagonismos, utilizando um componente político explosivo: a religião. Ninguém é capaz de prever as consequências da fanatização no campo político. O PT precisa, urgentemente, sair de seu silêncio. De discutir internamente, de forma séria, a sua situação e o futuro de Lula. Tentar relançá-lo potencial candidato à sucessão presidencial, não parece ser a melhor solução agora. O partido precisa se adiantar e começar a construir uma alternativa viável. Sem que se saiba quem é Lula hoje, qualquer ação pode ser desastrosa. Tentar buscar semelhanças entre Lula e Mandela, aproveitando o fato de ambos terem se recusado a aceitar a liberdade com condições, é outro desastre. Mandela foi líder de um povo, tinha uma causa a defender. Lula…