Não me parece crível que o presidente Jair Bolsonaro (foto) tenha uma aptidão para o jogo estratégico, que possa ser reavaliado e reconstruído lance a lance, diante do processo de leitura da realidade, ao tempo em que ela vai moldando suas nuances. Ao que parece, o viés ideológico que ele tanto critica é o mesmo que move seus atos, em sentido contrário ao da esquerda. Paranoico por teorias das conspirações, tem em seus filhos, fortes adeptos das mesmas, um estímulo constante para que siga cultivando o exemplo de seu colega americano, Donald Trump, que encontrou o estrelato com posturas extremistas de direita. O mercado, sempre o mercado com seus tentáculos a envolver o mundo, agora é o seu pano de fundo para fortalecer sua cruzada contra a pandemia. Instinto e faro político para nocautear adversários, é inegável que ele tem. Já provou e comprovou isso e, mais recentemente, seu embate com João Dória em reunião com muitas testemunhas nos diz que ele jamais perderá esse hábito. Só que, agora, encontrou um oponente mais feroz e não percebeu que esse oponente assusta e aterroriza o mundo. E ele, pela sua própria característica, se move de maneira invisível aos olhos, mas assusta com a onda de terror que exala por onde passa. Ao focar em pessoas para destilar sua agressividade, não percebeu que o coronavírus, ainda que não venha a pegá-lo de forma sintomática ou assintomática, pode, nesse confronto, torná-lo uma vítima fácil de ser abatida naquilo que tem de mais caro: sua popularidade. De fato, existe um dilema na falsa dicotomia que coloca em campos opostos a economia e a saúde. Mas existem saídas que podem se tornar virtuosas. Uma delas é reconhecer a força do inimigo (representada pelas duas vertentes que não se opõem e sim se complementam como séria ameaça à humanidade) e estabelecer um cronograma prudente de retorno às atividades que coincida com o pós pico da epidemia. Nesta guerra não existe um único lado e sim duas poderosas vertentes que nos ameaçam a um só tempo. E um fato passa quase despercebido: enquanto o mundo está em chamas, as ações de empresas chinesas começam a entrar em alta.