O sinal foi dado: será uma birutice a realização do Carnaval em Belo Horizonte em 2021. A folia, que tem atraído milhares de pessoas para as ruas da cidade, turistas de várias partes do país e do exterior, corre o risco de ser adiada ou de nem acontecer no ano que vem. O motivo: a pandemia do coronavirus. Por ser uma festa de aglomeração, a folia de Momo não é recomendada, mas para o idealizador do projeto Almanaque do Samba, comentarista do Carnaval da Globo Minas e jornalista, Zuzileison Moreira, ou Zu Moreira (foto) , os envolvidos na realização do Carnaval estão na expectativa e ele não se surpreenderia se a festa fosse adiada por dois ou três meses. Ele lembra que além da folia, o Carnaval mexe com a economia e tornou-se um dos principais eventos da cidade.
O prefeito Alexandre Kalil disse que será uma “birutice” a realização do Carnaval em Belo Horizonte em 2021. Os envolvidos com a realização do Carnaval esperavam por uma sinalização como esta?
Na verdade, está todo mundo uma incógnita. Primeiro surgiu a suspeita de que esse ano o Carnaval poderia ter sido um foco para a doença, mas o próprio prefeito descartou isso. O primeiro óbito em Minas descarta a hipótese de que o vírus já estava circulando em Belo Horizonte no Carnaval. Já tivemos neste ano a pressão sobre a prefeitura devido às fortes chuvas no início do ano. Alguns grupos ligados a área evangélica levantaram a possibilidade de já não ter o Carnaval em 2020, em função das chuvas, mas mesmo assim tivemos o Carnaval. Agora está essa discussão para o próximo ano. Acho que ainda é muito cedo, e na própria fala do prefeito não há um descarte, mas uma sinalização de que se o quadro não se estabilizar até o ano que vem, fica difícil ter Carnaval. Nos últimos anos a prefeitura, os blocos e as escolas de samba vinham discutindo com o pessoal da organização da prefeitura, que tinha começado a antecipar o processo dos editais para subvenção dos blocos e das escolas de samba saiu no segundo semestre 2018. Antes as coisas ficavam tudo para última hora e a prefeitura começou com um processo de planejamento, com antecipação. O Carnaval desse ano começou a ser planejado a partir do segundo semestre do ano passado. Nós já estamos em julho, então acredito que nesse momento, a prefeitura não vai priorizar esse tema, nesse início de segundo semestre. De certa forma, o Carnaval já está sendo prejudicado porque esses prazos irão se esgotar. Se nós tivermos Carnaval no ano que vem, provavelmente, será com um planejamento e organização de véspera, porque com a pandemia não tem, por enquanto, nada planejado. Mas temos que ver que o Carnaval não é só diversão, ele é fonte de renda, gera recursos para os ambulantes, para a banda que toca, para os músicos, para quem monta palco. É uma indústria da Cultura que o Carnaval atinge e pode significar mais um prejuízo para essas pessoas. Os agentes que organizam a folia, em algum momento terão que se sentar para encontrar uma solução.
O Carnaval de Belo Horizonte é uma festa de rua, por isso, o folião pode ganhar as ruas independentemente da posição da prefeitura?
Pode ser que isso aconteça, pode ser que a prefeitura recue em realização do Carnaval e os blocos saiam, como já acontece com alguns que não seguem as regras da prefeitura. Mas essa é uma questão que não atinge só Belo Horizonte, é um assunto que envolve o Brasil inteiro, como acontece em relação ao futebol. No Brasil tem estados onde o futebol ainda não voltou, em outros está voltando. Com o Carnaval deve ser a mesma coisa, vai depender de cada estado.
Tem a questão do medo das pessoas de sair e se contaminar?
Sim, tem essa questão também. As pessoas estão com medo de sair, de se aglomerarem. Vai ser o comportamento do vírus que vai determinar isso. Se até o final do ano as autoridades virem que a situação não está controlada, que o pico da doença ainda não passou, enquanto o vírus não for controlado, acredito que o Carnaval será prejudicado. O Carnaval corre o risco de não acontecer ou de ser adiado para uma outra data. Em função da importância do Carnaval para a economia e para a sociedade, a não ser que continuemos na passagem do ano com o distanciamento social e com restrições. É difícil o Carnaval não acontecer. Ele pode ser adiado para dois, três meses para frente. (Crédito foto: Beth Freitas)