Os velhos políticos mineiros têm uma expressão que define com perfeição o ambiente político conturbado: “vaca está estranhando bezerro.” É verdade. E a vaca anda estranhando muito o bezerro no atual momento brasileiro, onde ninguém, nem mesmo os que deveriam comandar o país, sabe como e em que direção seguir. Ainda no campo das expressões populares, o governo e seus apoiadores estão como cachorro que caiu da mudança. É de causar arrepios a descoordenação política que vai tornando ainda mais complicada a recuperação da economia brasileira, embora os otimistas por profissão ou por interesses pessoais, insistam em dizer que o país apresenta índices até surpreendentes de retomada econômica. Não é bem assim. Continuamos patinando em números medidos sobre uma base comprimida e que não trazem perspectivas reais de retomada do emprego e da renda. Alguns setores, como o agronegócio e a construção, têm apresentado números favoráveis, mas com sinais de redução no ritmo de crescimento. E o governo não consegue liderar um processo mais uniforme de retomada das atividades. Aliás, corremos sério risco de o governo colocar a perder o esforço da iniciativa privada para acelerar o crescimento econômico. Sobre o palanque, embevecido com as últimas pesquisas eleitorais, o presidente Bolsonaro deu uma guinada populista que assustou os investidores. Ao decidir autorizar ao Ministério da Justiça cobrar dos supermercados explicações sobre elevação de preços, o presidente criou um clima de desconfiança na economia que, certamente, tornará ainda mais lenta a retomada, com reflexos na aprovação política do presidente. A dúvida é como ele reagirá a isto.