A eventual vitória de Joe Biden vai obrigar o presidente Jair Bolsonaro (foto) a se recolher de seu ridículo papel de vassalo de Trump e – esperamos – entender de vez que os países não têm amigos, têm interesses. O prejuízo à imagem do Brasil lá fora, capitaneado pelo inepto presidente, se configura como alarmante possibilidade de o país perder o espaço de liderança no agronegócio, entre outros motivos, pela declarada xenofobia de Bolsonaro. Não satisfeito em não governar, ele se delicia em desgovernar o Brasil. Não temos Orçamento aprovado, não há políticas públicas de investimento, o ministro da Economia definha por falta de autoridade e as promessas de campanha foram pouco a pouco abandonadas. O que há, e de sobra, é gosto pelo enfrentamento com quem ouse confrontar suas parvoíces. À sua revelia temos um pujante agronegócio, que carrega o Brasil nas costas, torcendo para nossos parceiros comerciais, em especial a China, não prestarem atenção ao boquirroto. Imaginem a destruição que causaria em nossa economia um embargo chinês aos produtos brasileiros, em represália pelas grosserias do capitão.
Lá, como cá
É visível o imbróglio judicial que se prenuncia. Donald Trump jamais aceitará eventual derrota, como ele mesmo já admitiu. A crise constitucional para a qual os EUA podem marchar não decorre apenas de mero questionamento numérico em algumas zonas eleitorais, mas colide frontalmente com os ideais de democracia e respeito à livre opção popular. Em paralelo com o Brasil, o negacionismo e as reiteradas e deliberadas tentativas de desacreditar o sistema eleitoral fazem de Jair Bolsonaro e Trump líderes mundiais do conclave que se opõe aos ideais da democracia e da ideia de República. Essa dupla constitui risco real para as bases constitucionais de seus países.
Prestem atenção
Com Trump e os Estados Unidos era uma coisa, sem ambos é outra. O projeto de um mundo de extrema direita vira um sonho (ou pesadelo) de uma noite de verão. É hora de acordar e cair na realidade – que, aliás, não está fácil, com pandemia, economia quebrada, dívida pública descontrolada e milhões de desempregados. O caos não é ideológico, é real.