A disputa eleitoral de ontem adicionou, ou alimentou, um novo complicador político no país. A alegada pane no supercomputador do Tribunal Superior Eleitoral, que impôs lentidão inusitada na totalização dos votos enviados pelos TREs, provocou alvoroço entre aqueles que, seguidores do presidente Bolsonaro, sustentam a possibilidade de fraude no processo eleitoral brasileiro. A teoria da conspiração voltou com força às redes sociais, numa tentativa de explicar o fracasso das candidaturas defendidas pelo presidente. Como os fatos políticos têm demonstrado que há muito mais a unir do que a desunir teorias bolsonaristas e petistas, a nuvem de suspeita de fraudes, certamente, será comum entre os dois grupos políticos, os maiores derrotados nas eleições de ontem. Um quadro que pouco, ou nada, vai ser alterado com o segundo turno da disputa em alguns poucos municípios brasileiros. Os resultados de ontem “tiraram o chão” de Lula e Bolsonaro, tornando transparente a rejeição que ambos enfrentam. Eleitoralmente este é o principal recado deixado pelas urnas ontem: a pretendida polarização da disputa, que tanto interessa a Bolsonaro e Lula, não vai acontecer. Há um campo aberto para o surgimento de novas candidaturas e o crescimento de outras, como a do governador João Doria, de São Paulo, já colocada e que causa incômodos especialmente no presidente da República. Os resultados de ontem indicam também a necessidade de se repensar a questão partidária no Brasil. O modelo atual está inteiramente falido e os partidos existentes têm funções meramente cartoriais. Não representam nada. Exceção talvez do PT, que de esperança, passou a ser execrado, como se fosse mesmo pior do que os outros. Enfim, para o país a eleição de ontem mostrou o quanto precisamos evoluir politicamente. A disputa foi de nível muito baixo, evidenciando o despreparo dos candidatos, tanto para prefeitos quanto para vereadores, e o quanto vamos tornando radical e violenta a disputa política no país. É tempo de reagir contra esta realidade.