Políticos e intelectuais que trabalham para se chegar a um nome nacional de centro ou de centro-esquerda, que tenha condições de disputar com o presidente Bolsonaro em 2022, introduziram nas conversas a ideia da instituição de um gabinete fantasma, no modelo parlamentar inglês do “shadow cabinet”. Desde o século passado, o partido que está na oposição – seja o Conservador, seja o Trabalhista – destaca políticos de seus quadros para fazer o acompanhamento dos atos de governo, setor por setor. Denuncia, corrige, aponta soluções alternativas. Um dos interlocutores desse grupo que deseja escapar ao dualismo em que o Brasil se encontra – bolsonaristas versus lulistas – disse a este repórter que a prática do Gabinete Fantasma pode servir também para garimpar, naturalmente, o nome de consenso suprapartidário para o ano que vem. O informante deu exemplos: para atuar no combate à pandemia, o ex-presidente Fernando Henrique (foto) seria “investido” como embaixador do Brasil na ONU, atuando junto com o “chanceler”, que pode ser Lula. Ambos gozam de bom prestígio nos Estados Unidos, Europa e Ásia, centros que produzem as vacinas contra o Covid. O “Ministro Extraordinário de Combate à Pandemia” seria o ex-ministro Mandetta. Para tocar os demais assuntos da Pasta da Saúde, seria convocado o também experiente ex-ministro Alceni Guerra. O ex-presidente Temer pode ser o “ministro da Justiça”; o ex-ministro Henrique Meirelles tomaria conta da Fazenda. E teria como auxiliar, numa fictícia Pasta Extraordinária da Recuperação Empresarial, o empresário e homem público Afif Domingos. O professor Fernando Hadad seria o nome para a Educação. O ex-presidente José Sarney, cujo bom relacionamento com os militares é proverbial, seria o Ministro da Defesa. Também seria convocada a experiência de outro ex-presidente, Fernando Collor, este para a área do meio-ambiente, em que o Brasil está sofrendo críticas em todo o mundo. Foi no Governo Collor que se promoveu o primeiro grande debate global do tema, a Rio-92, e o nome de Collor é bastante lembrado pelos ambientalistas internacionais. Três assuntos predominariam no Gabinete Fantasma: o combate à pandemia, a defesa da Constituição, e o meio-ambiente, outro setor no qual o Brasil, no conceito das nações mais importantes do mundo, está andando às cegas, com um responsável ou irresponsável – o ministro Sales – que está deixando os madeireiros e os garimpeiros clandestinos a arrasar a floresta amazônica. Para culminar seria chamado o José Mucio Monteiro – é um dos melhores homens públicos do Brasil – para ser o “ministro extraordinário da coordenação de governo”, pois é um expert em administração pública, foi um notável congressista e zeloso magistrado de contas, no dizer do informante deste blog.