Muitos, talvez a maioria até, conhecem a parábola do escorpião e o sapo, que se aplica muito bem ao momento político brasileiro. Por isso, revivê-la aqui é bom, é didático, refresca a memória dos que a conhecem e leva à reflexão os que dela tomam conhecimento agora. Então vamos lá. Parado à beira do rio, como se esperando a coragem para iniciar a travessia, um sapo recebe um pedido de um escorpião que se aproximou. “Senhor sapo, o senhor vai atravessar o rio. Poderia me levar nas costas pois preciso atingir a outra margem e não sei nadar”. O sapo, precavido negou o favor pedido. “Como vou colocar você nas minhas costas? Para você me ferroar e me matar. Não, procure outro jeito”. A resposta foi imediata e convincente. “Se estou nas suas costas, se não sei nadar, como vou ferroar o senhor? Se fizer isto morremos nós dois. E eu não quero morrer”. De coração mole, o sapo se deixou convencer e mandou o escorpião subir. Tudo foi bem até lá pelo meio da travessia, quando o sapo sentiu a primeira ferroada, logo depois a segunda. Sem força e com fortes dores reclamou: “mas escorpião, você prometeu. Agora vamos morrer”. Solto na água, sem saber nadar, o escorpião se desculpou. “Perdoe-me seu sapo. Eu não queria fazer isto. Mas é meu instinto”. E é assim que agem os que vão pelo instinto, sem projetos, seguindo apenas o que lhes parece o caminho mais provável ´para atingir seus objetivos. Objetivos compartilhados com poucos. São convincentes no início, enfeitiçam, arregimentam os mais ingênuos para depois agirem com truculência em defesa de seus projetos. E esta truculência acaba por despertar os que, por boa ou má fé, acreditaram nos arroubos iniciais, sem se dar conta- ou propositalmente desconhecendo- que faltava, e falta, consistência ideológica aos escorpiões travestidos de atores políticos. O medo de serem ferroados no meio da travessia já faz recuar muitos dos que ofereceram as costas para carregar algo que não conheciam, mas que se mostrava favorável por contrário ao que queriam desalojar do poder. A imprevisibilidade, os arroubos, e instinto, estão levando a recuos da sociedade. E isto aumenta o som das trombetas. Assustado o sapo segue adiante, sem saber como fazer, sentindo, no entanto, que as marolas aumentam, colocando o futuro, que é a outra margem, em risco. O escorpião, por sua vez, se mantém ameaçador, mas já sem a segurança de que tem condições de dar a ferroada e pular para costas que julga mais largas. A hora é de prudência. E de apoio ao sapo. (Foto reprodução internet)