Wagner Gomes
Não faltam manchetes, faltam mapas. O país gira como um carrossel bêbado, conduzido por homens que confundem poder com performance e por plateias que aplaudem o enredo sem notar o cenário, movidas pela ditadura da narrativa. A política, reduzida a gestos e slogans, tornou-se reality show com o orçamento público que funciona como um aspirador de pó de nossa liquidez; a economia, refém de dogmas reciclados, sobrevive entre ciclos de euforia e frouxidão fiscal; e a mídia, ora cúmplice, ora distraída, reescreve a crônica do colapso em tempo real — sem avisar que é continuação. Neste país onde tudo se repete com sotaque de novidade, entender é resistir. E resistir, neste caso, não é levantar bandeiras, mas arrancá-las do palco para ver quem realmente move as cortinas. É desmontar o espetáculo, expor os bastidores, rastrear o dinheiro e identificar os ventríloquos do debate público. O que se segue não é reportagem, tampouco profecia. É uma tentativa de leitura estrutural — um mergulho no subsolo da narrativa oficial, onde cifras e narrativas se entrelaçam, e onde o silêncio, muitas vezes, diz mais do que os editoriais. Este não é um texto para quem busca conforto. É para quem suspeita que há lógica no caos — e que entender essa lógica é o primeiro passo para sabotá-la.