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A economia e seus donos invisíveis

Paulo César de Oliveira
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Wagner Gomes

Wagner Gomes

O discurso econômico brasileiro é uma ópera encenada por tecnocratas, mas escrita por interesses que jamais pisam no palco ou assinam o libreto. Fala-se em responsabilidade fiscal com a solenidade de quem recita uma oração, mas por trás do altar operam lobbies sorridentes, consultores com CPF do CNPJ e banqueiros que fingem altruísmo enquanto precificam o caos. Desde a redemocratização, a economia nacional tornou-se refém de consensos fabricados. Primeiro, a inflação foi demonizada como se fosse um ser mitológico surgido do nada — sem se olhar para os pactos corporativos que a alimentavam. Depois, o tripé macroeconômico virou dogma, não modelo. Superávit, câmbio flutuante e metas de inflação tornaram-se mantras que, quando violados, soam mais escandalosos do que desvio de verba pública. O Brasil gasta muito e gasta mal — isso se sabe. Mas o que raramente se discute é quem molda esse gasto. As corporações de Estado têm orçamentos blindados e sindicatos de alto escalão. O setor financeiro, sempre ágil, opera como poder paralelo: empresta ao governo a juros altos com o dinheiro que o próprio governo emite. E a elite empresarial, vestida de liberalismo, só aparece para reivindicar menos tributo — desde que não se toque em seus subsídios. A cada mudança de governo, muda a liturgia — mas não o altar. A “nova política fiscal” sempre começa como ruptura e termina como remix. O realismo do ajuste convive com a fantasia do crescimento espontâneo. As reformas estruturais são anunciadas como inevitáveis — e arquivadas como inconvenientes. E o povo, esse detalhe estatístico, serve de justificativa para tudo. Quando o PIB cresce, foi pela confiança do mercado. Quando desce, a culpa é do trabalhador caro, da CLT, ou do “Estado inchado” — nunca dos incentivos mal desenhados ou dos privilégios que sobrevivem a todas as crises. No Brasil, a economia não se move por oferta e demanda — mas por influência e blindagem. O verdadeiro PIB é o Produto Interno de Bastidores.

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