O ministro Fernando Haddad (foto/reprodução internet) saiu de uma reunião com líderes do Congresso achando que o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras, IOF, estava a salvo. Vinte dias depois, acordou com uma ligação da ministra Gleisi e a notícia: o IOF caiu. Não falou mais com o deputado Hugo Motta — com quem, até então, nutria interlocução privilegiada. Diante do revés, ameaça recorrer ao Supremo. A cena expõe mais que uma derrota fiscal: revela um governo que acredita demais nos seus próprios acordos e se assusta com a política quando ela exerce o imprevisto. Fala-se em justiça tributária, mas o impasse é político. E nele, o que pesa não é só o corte no Orçamento, é a perda de comando. A cena central é emblemática: um ministro da Fazenda que acredita num acordo selado com líderes do Congresso e, dias depois, é surpreendido com a guilhotina parlamentar.
Retórica no lugar de voto
Fernando Haddad, na ausência de maioria, quer apelar ao Supremo. Onde faltam votos, sobram juízes. A derrota no Congresso virou pretexto para retórica: justiça fiscal, resistência dos ricos, luta de classes. O velho enredo. A verdade é mais simples: sem articulação política, o governo transforma cada recuo em cruzada ideológica. E cada tributo em trincheira. Quando a política fracassa, sobra discurso. Entre acusações de golpe legislativo e retórica de luta de classes, o que se revela é o fracasso de articulação e a dependência do governo de uma militância cada vez mais restrita. A conta, como sempre, será paga pelo contribuinte.