Wagner Gomes
Do alto de um coreto cívico abandonado entre o bolsonarismo e a revolução que nunca veio, a direita brasileira anda tão perdida que, se fosse exército, marcharia em zigue-zague. Já a esquerda, coitada, continua desfilando com bandeiras vermelhas que já desbotaram. Uma não sabe para onde vai, a outra insiste em dizer que já chegou. A direita, que prometia liberalismo, virou devota de um ex-capitão intervencionista. Usa terno, cita Friedrich Hayek, mas adora uma estatal e um orçamento secreto. É uma mistura de Chicago com Guaratinguetá e Sucupira. Vive de lacre nas redes e arreganho nos bastidores. A esquerda, por sua vez, vive de passado. Governa como se fosse 2010, quando o crédito fácil e o preço da soja faziam milagres. Agora que o dinheiro sumiu, sobrou só discurso. Vangloria-se da cultura, mas repele o novo. Abraça causas identitárias, mas esquece que gente com fome não come pauta. No meio, o eleitor — que não quer nem golpe nem grelo duro, como já disse Lula da Silva com seu palavrório inconsequente — olha tudo e pensa: é só isso? A extrema-direita não entrega o que promete. A esquerda não promete mais nada. E o centro, bem, o centro virou uma agência de currículos para ministérios de ocasião ou um APP de emendas orçamentárias. Quem, como eu, que já fui chamado de reacionário, revolucionário e até “isentão” (esse dói como ofensa grave), continua esperando uma ideia com começo, meio e menos cinismo. Mas Brasília só entrega personagens. Pior: sem ensaio, sem texto. Só pose.
Wagner Gomes – articulista.