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Palco da vida

Paulo César de Oliveira
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Renata Araújo

O teatro já está em mim desde cedo assim como  está em vocês. Vocês são partícipes também. Já pensaram nisso?

Cada um de nós está em um grande teatro, bem maior: a vida. Apresentamos nossos personagens em cena.  Recordo-me  de Wisława Szymborska com seu poema  

“A vida na hora”. 

Cena sem ensaio
Corpo sem medida
Cabeça sem reflexão

Não sei o papel que desempenho
Só sei que é meu, impermutável

Ao trazer  nossas histórias, nosso modo de ser,  medos, anseios, caminhos,  e a forma de como nos apresentamos nesse caminho, com nossas cenas infantis que, muitas vezes, se repetem. Temos consciência de que estamos em cena? E qual seria o roteiro dessa peça? Será mesmo que nosso papel é  impermutável?

Quem escreve? Somos escritos? Durante bastante tempo, seguimos  um roteiro imposto, atravessado por um Outro que nos diz o que pensarmos, como fazermos. É seu personagem  que está em cena, ou um ventríloquo? Onde  um outro indivíduo pratica a ventriloquia. A arte de falar sem mexer os lábios, dando a impressão que a voz vem de um outro, mas não de quem fala. Em alguns deles suas vestimentas são fantoches  dirigidos, sendo carregados como fantasia.

Já pensaram sobre suas escolhas, sobre seus desejos possivelmente mais sombrios? Aqueles que guardamos sem sabermos que nos move? Passarão uma vida sem terem acesso ao que escondem nas entranhas, o que esmurra a parede do ser pedindo passagem? Deixará assim de lado, sem olhar  para dentro?

Quando  escolherão  por vocês mesmos o texto da peça  que encenam? Poder escolher é poder apropriar-se de sua fala. Não é preciso renegar, porém apropriar-se. Leva um tempo, eu sei.  A vida esvai. Você tem realmente realizado o que deseja?

Vejo a vida correr. Vejo não, sinto! Na pele, no passar do tempo, no registro deixado em meu corpo, nas histórias narradas, nos laços feitos e desfeitos. E o mundo gira.  A vida  continua sem ensaio, sem medida e sem reflexão? Volto ao poema de Wislawa.

Despreparada para a honra de viver

mal posso manter o ritmo que a peça impõe

Improviso embora  repugne a improvisação

Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas

Meu jeito de ser cheira a província

Quando acordaremos desse desconhecido? Ficaremos na improvisação, em um ritmo que não diz sobre nosso corpo, não descreve nosso encontro nesse cheiro de província? 

Lembre-se  a peça poderá ser escrita por suas mãos. E você saberá fazer algo com isso que te pertence! Tudo isso é bem libertador! Terá seus gestos, seus traços, sua maneira de fazer.Ouvirá sua voz no palco da vida. Seu script sendo transformado e relido. Assim a forma de se posicionar na vida gira. O palco gira. Você gira. Uma nova possibilidade,com outro alguém no comando: você.

Renata Araújo – Psicanalista, escritora e cantora.

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