Cercada de mistério, a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek ainda é uma interrogação na história do Brasil. O único amigo vivo de JK, Serafim Jardim (foto/reprodução internet), chegou a escrever um livro “Juscelino Kubitschek: onde está a verdade”, após tentar a reabertura do processo envolvendo a sua morte e do seu motorista Geraldo Ribeiro, em um acidente na rodovia Presidente Dutra, em agosto de 1976, em Resende, Rio de Janeiro. O noticiado na época relatou que o carro em que os dois estavam tinha sido atingido por um ônibus e depois por um caminhão. O assunto foi motivo de investigação pela Câmara Federal e pela Câmara Municipal de SP. Coincidência ou não, em menos de um ano morreram JK, João Goulart e Carlos Lacerda. Todos em circunstâncias não devidamente explicada. Serafim Jardim, com seus 90 anos, segue na sua luta para provar a verdade e prepara um novo livro com mais informações sobre as perseguições sofridas por JK durante o regime militar. Ele é o responsável pela Casa de Juscelino em Diamantina.
Por que o senhor acha que Juscelino Kubitschek foi assassinado?
Foi um atentado contra a vida dele. Olha, eu convivi com ele por 9 anos e durante esses 9 anos eu tenho vários casos que aconteceram com ele. Ele sofreu muito, porque ele muito emotivo. Com a revolução de 64, das perseguições que ele sofreu, o que aconteceu foi que eu cheguei à conclusão que a morte foiprovocada e por isso consegui reabrir o caso da morte dele. Fiz uma carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso pedindo a reabertura do caso. O Fernando Henrique Cardoso mandou para seu ministro da Justiça, o Nelson Jobim para analisar. Pedi uma audiência, com o Nelson Jobim, fui a Brasília, estive com ele e neste encontro tive a oportunidade de relatar o que aconteceu. Pedi ajuda ao um grande amigo meu, Paulo Castelo Branco, para me acompanhar. Chegamos lá e o Nelson Jobim praticamente disse que não tinha como resolver, que o registo era do passado e que não tinha condições de reabrir o caso porque não se tinha nada de novo. Eu chamei o Paulo Castelo Branco e o Carlos de Minas, que era da polícia civil e nós 3 fomos a Resende, onde aconteceu o acidente, analisamos o processo e vimos que ele estava cheio de falhas. Voltamos a Resende e pedimos a reabertura do caso. Com 6 dias, a procuradora decidiu reabrir. Em março de 96conseguimos a reabertura do caso, mas já praticamente com 20 anos da morte do presidente. No dia 22 de agosto o processo foi arquivado. Foi então que escrevi este livro “Juscelino Kubitschek: onde está a verdade”, que tem vários documentos. Depois, a Márcia Kubitschek foi eleita deputada federal por Brasília e ao lado do seu genro, o Paulo Octávio, que era deputado naquela época, conseguiu reabrir novamente o caso pela Câmara Federal.
O senhor conseguiu provar o crime?
Eu fui o primeiro a depor, na Câmara Federal. Os deputados viajaram, foram ao Paraguai, foram Chile, foram os Estados Unidos e voltaram dizendo que JK foi morto. Foi essa a conclusão. Mas não fizeram nada. Caso JK está sendo falado aí novamente. Falam em reabrir o caso e se porventura eles reabrirem sem levar a parte política, aí eu vou provar que o presidente foi assassinato, que ele foi morto em um acidente provocado. Inclusive eu tenho um depoimento do Carlos Heitor Cony que eu guardo com muito cuidado, aonde ele diz o seguinte: que quando ele era repórter da Manchete, ele foi fazer a matéria sobre a morte do JK em Rezende e foi até o hotel fazenda onde o presidente ficou por durante 40, 45 minutos e durante esse tempo muita coisa poderia acontecer. Poderia acontecer qualquer coisa. Ele pergunta ao guardador de carro se ele tinha alguma coisa a dizer sobre o carro do Juscelino, que ficou ali durante 40, 45 minutos. O guardador disse, que o quando o motorista do carro, o Geraldo ia sair, ele pergunta ao guardador se mexeram no carro dele, porque ele encontrou o volante totalmente diferente. O Geraldo não deveria ter saído com o volante em posição diferente. Mas ele sai e três minutos depois JK estava morto.
Nós, inclusive, fomos a algumas oficinas mecânicas. Um jornalista em São Paulo chamado Ivo Patarra andou frequentando várias oficinas e chegou à seguinte conclusão: os mecânicos disseram que o Opala, que era o carro do Juscelino, quando corta o conduíte, que leva o óleo ao freio, ele anda 2 km e entra para a esquerda. E foi o que aconteceu com o carro do JK. O ônibus jamais bateu no carro do Juscelino.
Antes do acidente ele chegou inclusive a ser preso pelos militares?
Em 68, quando ele é preso. E ele estava no Teatro Municipal como paraninfo, patrono dos formandos, inclusive, entre eles estava um filho do Andreazza. Quando terminou a formatura, ele foi preso. Bateram no ombro dele dizendo,” o senhor está detido”. Ele pensou que fosse até uma brincadeira, “mas detido?” Daí levam ele para o quartel em Niterói, onde ele lá fica preso durante quase 30 dias. Dona Sara ficou dois dias para descobrir onde ele estava e só conseguiu descobrir porque ela insistiu que ele tinha que tomar seus medicamentos, que eram alguns comprimidos para pressão e outro porque era diabético. Ele tinha de tomar os comprimidos. Levam ele, colocam um quarto de uma altura, mais ou menos uns 10 m. Ele não tinha um livro, não tinha um jornal, não tinha nada. Então ele começou a andar. Quando ele começou a andar atrás dele apareceu um militar, um soldado com fuzil. O soldado se desculpou e disse que estava cumprindo ordens. Na parte da manhã, ele foi tomar café com o guarda que contou para o Juscelino, que ele seria muito bem tratado pelos soldados, e que alguns oficiais é que não gostavam. Ele então é avisado por este soldado, para que prestasse atenção, porque em cima da cama dele, tinha um buraco e tinha uma pessoa olhando, o vigiando o tempo todo. Mas apensar da prisão, de tudo o que ele passou, ele estava muito bem, sempre sorrindo, sempre alegre. Gostava de dançar mesmo. Coincidência ou não, em 272 dias morreu Juscelino, Jango e Lacerda, os 3 líderes da frente ampla, todos 3 morreram e ninguém sabe de que eles morreram.