Wagner Gomes
A tentativa de associar um vídeo do deputado Nikolas Ferreira(foto/reprodução internet) ao fortalecimento do crime organizado é mais do que simplista: é um desvio conveniente. O vídeo pode ser polêmico, mas não lava dinheiro. Quem lava é um sistema legal construído sob a lógica da conveniência política e econômica, onde a omissão institucional funciona como aval silencioso. Não é a retórica digital que sustenta facções criminosas, mas uma engrenagem regulatória que deixou prosperar brechas escancaradas. A Operação Carbono Oculto apenas confirmou o que a literatura sobre economia do crime repete há décadas: o PCC e congêneres não se alimentam de curtidas, mas de incentivos claros. Onde a regulação é frouxa, os custos de operar caem e o lucro cresce. Foi exatamente isso que o Estado brasileiro proporcionou ao permitir que fintechs e meios digitais florescessem sem o mesmo rigor imposto aos bancos. O resultado foi um sistema paralelo de altíssima eficiência, capaz de movimentar bilhões com reduzido risco de rastreamento. A lógica é elementar. Como lembra Pery Shikida, criminosos agem racionalmente: buscam ambientes de menor risco e maior retorno. Thiago Bottino destacaria o tripé da complacência: Legislativo que flexibiliza, Executivo que sanciona e Judiciário que se furta a tensionar. Esse conjunto sinaliza tolerância e, na prática, legitima a expansão do mercado ilegal. O espetáculo político das redes sociais pode render manchetes, mas não explica o fortalecimento das facções. Transferir a culpa a parlamentares barulhentos é desviar o olhar do essencial. O crime prospera porque a arquitetura normativa foi desenhada para favorecer sua expansão. Enquanto se discute o vídeo de um deputado, permanece intocado o verdadeiro motor do crime organizado: a escolha deliberada de manter brechas que facilitam a lavagem de dinheiro e perpetuam a impunidade.