Wagner Gomes
O eleitor brasileiro ainda não se definiu, mas, como sempre, o mercado já montou seu cassino paralelo. A roleta chama-se “trade eleitoral” e os apostadores — gestores, analistas e até observadores estrangeiros de olho gordo — fingem que só observam pesquisas de intenção de voto. Na prática, qualquer oscilação na bolsa vira justificativa conveniente: se o índice cai, culpa do Lula; se sobe, mérito da expectativa por um salvador de centro-direita. É a ciência exata do chute. Os gurus do mercado juram que não há lado escolhido, que tudo é “muito pessoal”. Na tradução, significa que a bússola aponta invariavelmente para onde sopra o vento dos juros baixos e das reformas “inéditas em 30 anos”. Quem acredita nesse cenário idílico promete um país pronto para privatizar estatais, reduzir direitos e desamarrar gastos sociais da Constituição, como se fosse simples cortar na carne sem provocar gritos. A Mar Asset, sempre otimista, vende o sonho de um reencontro histórico entre Executivo e Legislativo — quase uma versão tropical do casamento perfeito. O dote seriam reformas estruturais que fariam inveja a Fernando Henrique e Michel Temer, além de um alívio mágico na dívida pública. Tudo, claro, sem o menor custo político. Quem acreditou no conto de fadas de 1994 já conhece o desfecho: o dragão da realidade costuma cuspir fogo nos cálculos de planilha. O pêndulo eleitoral, mais à esquerda entre 2002 e 2014, sofreu uma guinada em 2016 para a direita, com o “surpreendente” Michel Temer (foto/reprodução internet), para, em seguida aparecer o furacão Bolsonaro. Em 2022, Lula só venceu porque o “mito” colecionou rejeição, mas o discurso atual é de que a extrema-direita perdeu tração e abriu espaço para a centro-direita, agora reembalada como produto premium. O nome da vez é Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, apontado como aposta natural para atrair o tal voto pendulardaquele eleitor que muda de humor a cada pleito. Mas pode mudar. A tese é simples: se o eleitor paulista virou a chave em 2018 e 2022, nada mais lógico que transformar o ex-ministro em ficha de aposta. O cassino do “trade eleitoral” funciona assim: cada gestor escolhe sua mesa, cada analista sua narrativa. No fim, o lucro está menos na política e mais no espetáculo de vender previsões embaladas como ciência. A eleição real virá, mas, até lá, o mercado continuará aplaudindo seus próprios truques de mágica — e cobrando caro pelo ingresso.
Wagner Gomes – Articulista.