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O risco de silenciar para convencer 

Paulo César de Oliveira
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maquiavel 1

Wagner Gomes 

Nas democracias contemporâneas, a reeleição de políticos — os chamados incumbentes, se no poder executivo — deixou de ser um percurso seguro. Quando ocorre, muitas vezes se dá por margens estreitas, revelando um eleitorado fragmentado e cada vez mais impermeável ao diálogo. Essa dificuldade não é apenas fruto de gestão ou circunstância econômica; é também produto de um ambiente informacional em que cidadãos habitam bolhas ideológicas cada vez mais estanques. Opositores polarizados encontram-se majoritariamente confinados em grupos e redes onde prevalece o pensamento homogêneo. A interação com o contraditório é mínima. Nesses espaços, cada participante confirma e reforça as certezas próprias e dos demais, alimentando um círculo que exclui o debate genuíno. Surge então uma pergunta central: o que acontece quando essas comunidades perdem o acesso a vozes divergentes? Ideias não desaparecem pela censura; muitas vezes, ganham força subterrânea. A história ensina que a repressão de discursos pode transformar líderes e movimentos em mártires, conferindo-lhes a aura de perseguidos — e, com isso, capital político renovado. A filosofia também oferece lições. Maquiavel já ensinava que não basta governar, é preciso parecer virtuoso; no jogo contemporâneo, não basta ter razão, é preciso parecer injustiçado. O banido, ao se apresentar como mártir, troca fragilidade por força, convertendo desvantagem em arma de mobilização. Tocqueville completaria o quadro: a democracia não resiste apenas ao despotismo do poder, mas também ao despotismo da opinião, que pode ser manipulado por quem se declara perseguido e, assim, arrasta multidões em nome da liberdade que diz defender. Temos que preservar a legitimidade do processo democrático e evitar que empresas privadas assumam funções típicas de Estado. O desafio, portanto, não é eliminar ideias consideradas nocivas, mas criar mecanismos transparentes, legais e proporcionais para lidar com elas. Democracias maduras se sustentam na convivência conflituosa, mas aberta, de projetos divergentes. Quando o contraponto desaparece, resta a autossuficiência das bolhas, e estas não se dissolvem pela força — apenas se radicalizam. Silenciar não é convencer ou ser convencido. E a política, se deseja reconquistar a confiança do cidadão, precisa resgatar o espaço público como arena de confronto civilizado, não como vitrine de consensos artificiais. 

Wagner Gomes – Articulista

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