Wagner Gomes
Há sempre, em Minas, a desconfiança sábia de que o futuro se prepara no silêncio e se compromete no excesso de palavras. Aqui, o futuro costuma nascer longe dos holofotes — e neles se corromper quando a fala é mais ruidosa que a substância. Nikolas Ferreira, jovem personagem de nossa política, surge como figura enigmática, uma presença que tanto magnetiza, quanto assombra. É a chama que atrai o olhar, mas que pode correr o risco de se embevecer no próprio clarão. Com verbo direto e sem temor, fala a um público cansado de máscaras e aparências. Como a lógica da multidão a transforma em um palco de ilusões e febres coletivas, muito provavelmente Charles Baudelaire se debruçaria sobre o que mais lhe fascinava e atormentava – o contraste entre autenticidade e espetáculo – para ver em Nikolas a figura de um “flâneur digital”: alguém que percorre as ruas virtuais não para contemplar, mas para incendiar ânimos, encenando fúria como se fosse poesia. Ou talvez um produto moldado pela lógica das redes sociais, onde a aura da política — a solenidade, a experiência acumulada, o peso da tradição — se dissolve em cliques, likes e vídeos virais. Nas arenas digitais, onde sombras se multiplicam como num teatro de Gaston Leroux, ele arranca aplausos de uma juventude órfã de ídolos. Sua coragem, rara nos salões modernos, tem a intensidade de um Edgar Allan Poe: convoca, inquieta, galvaniza. Representa um setor expressivo do eleitorado conservador, que se reconhece nele não apenas pelas ideias, mas pelo estilo. É hábil em comunicação digital, conecta-se com jovens e maduros num país descrente da política e consegue traduzir em indignação frases simples que ressoam como bandeiras. Tem uma audácia singular na política contemporânea. Mas há, por trás do brilho, o risco do abismo. Virtudes não contidas transformam-se em armadilhas: o eco da própria voz pode torná-lo refém de caricaturas; o aplauso fácil, um cárcere dourado. Sua popularidade já lhe confere o status de liderança, embora a retórica do confronto ameace sufocar o espaço do diálogo, sem o qual a política degenera em mera guerra de facções. Como advertia Platão, “não se deve viver à sombra de outro, mas cultivar luz própria”. Nikolas deve explorar sua performance de tal forma que o brilho que irradia seja reconhecido como autêntico, e não reflexo alheio. Que se porte como estrela madura, capaz de deixar de orbitar para ser orbitado — condição essencial ao político de envergadura, que carrega uma conotação de grandeza, visão de longo prazo e responsabilidade histórica. Em nossa tradição cabe a lembrança de que o mineiro estimula, por índole, que o seu representante cultive a prudência, a arte de dizer menos e pesar mais. Que aprenda a dialogar além do seu círculo e para além da bolha; praticar a convivência com os contrários. Em suma, desprezar a tentação da pirotecnia e aspirar ao ofício mais duradouro: o de estadista. O Brasil, que tantas vezes queimou cedo seus talentos políticos, pode encontrar nele um protagonista de longo prazo. Mas para isso será preciso que, antes, transite pelo calor das redes sociais com a mente na serenidade da política real. A lição de Tancredo Neves segue atual: sabedoria não se mede pela violência do embate, mas pela rara capacidade de unir o que a discórdia insiste em separar.
Wagner Gomes – Articulista











