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Obituário de Hollywood — “Adeus às luzes” 

Paulo César de Oliveira
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Wagner Gomes 

As luzes de Hollywood se apagam devagar, como velas que teimam em crepitar no fim da festa. O palco do sonho americano virou depósito de cenários, e o tapete vermelho, outrora símbolo de glória e vaidade, tornou-se um corredor de poeira industrial. Lá onde o glamour ditava a regra do mundo, restam galpões vazios, letreiros gastos e silêncios longos. A meca do cinema morreu de uma doença previsível: excesso de planilha e falta de boas histórias. Os estúdios, pressionados por custos altos e impostos pesados, deixaram a Califórnia em busca de refúgio fiscal em estados que oferecem o que Los Angeles perdeu — previsibilidade e incentivo. No rastro dessa fuga ficaram milhares de técnicos, roteiristas e sonhadores. De 150 mil empregos, restam pouco mais de 100 mil. Cada um, uma estrela que se apaga no vasto firmamento do entretenimento. Mas a maior perda não está nos números. É simbólica. A inteligência artificial tomou o café dos criativos e deixou a conta: escreve, edita, anima e simula emoções — tudo em segundos, sem vaidade, sem alma e sem sindicato. A máquina substituiu o sonho, e o homem tornou-se figurante do próprio mito. A nostalgia, agora, é o último investimento rentável de Hollywood, uma tentativa de vender ao mundo o perfume do passado em frascos digitais. Já não nascem astros nem divas. O estrelato, que fez da indústria uma religião global, dissolveu-se na impessoalidade das telas pequenas. A fama virou algoritmo, e o talento, estatística. O cinema americano, que ensinou o mundo a sonhar, encerra o expediente como quem desliga o projetor após o último rolo. Restam os ecos: o beijo de Bogart, o olhar de Hepburn, o sorriso e a saia – levantada pelo vento – de Monroe — fantasmas de celuloide vagando entre plataformas de streaming, repetindo-se até o esquecimento. O governo tenta reanimar o corpo com créditos fiscais e discursos patrióticos, mas a plateia já foi embora. O público dispersou-se em múltiplas telas e idiomas, e a antiga capital da fantasia virou apenas uma marca global. Hollywood ainda brilha — mas é brilho de lembrança, reflexo de um tempo em que a arte comandava o capital e o sonho valia mais que o orçamento. Hoje, o sonho é planilhado, e o aplauso, medido por cliques. No alto das colinas, o letreiro permanece — não como promessa, mas como epitáfio. E na Calçada da Fama, entre estrelas rachadas e nomes esquecidos, alguém gravou a lápide que resume toda uma era: “Aqui jaz o sonho que o mundo aprendeu a sonhar.” O vento sopra entre as palmeiras da Sunset Boulevard, arrastando papéis de roteiros que jamais serão filmados. As luzes se apagam uma a uma, e o resto, como diria Hamlet, é silêncio. 

Wagner Gomes – Articulista

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