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O país que prende o capitão e cria o guardião 

Paulo César de Oliveira
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bolsonaro silhueta

Wagner Gomes 

Hoje resolvi escrever uma coluna editorial, com lirismo, ironia discreta e facada analítica — sem floreios desnecessários. O Brasil acordou com um ex-presidente preso e um país dividido entre quem vê o fato como exorcismo democrático e quem o trata como crucificação política. A verdade, como sempre, fuma um cigarro na sarjeta enquanto os dois lados gritam. Existem argumentos que justificam visões opostas. Por um lado, a prisão é constitucional, proporcional e necessária para preservar a integridade da ordem democrática e garantir a execução da pena. Qualquer leitura “garantista” que ignore o contexto histórico da tentativa de golpe vira ingênua — ou cúmplice. Bolsonaro não caiu por um tropeço retórico; caiu porque flertou com a ruptura institucional com a volúpia de quem acha que golpe é só um PowerPoint bem diagramado. Tentou a sorte, errou a mão, pagou o preço. A prisão, nesse sentido, tem cheiro de justiça histórica: pela primeira vez, o país diz que atacar o regime não dá cashback. Mas o outro lado do palco é menos heroico. Se sua régua central é limite ao poder penal do Estado e desconfiança de cortes ativistas, você tende a vê-la como injusta ou abusiva, ainda que reconhecendo a gravidade do que Bolsonaro fez. A toga que prendeu o capitão, em vez de cumprir o ideal de separação de poderes à la Montesquieu — freios, contrapesos, cada um no seu quadrado — ganhou tons de O Grande Irmão (de Orwell): vigilância, controle centralizado, poder concentrado e arbitrário. Um ministro investiga, acusa, julga, decreta, interpreta, renova e, no fim, carimba a sentença. É como se o STF, cansado de ver generais brincando de Estado, tivesse decidido brincar também — só que com caneta. Não é erro punir o golpismo; erro é fazer isso criando um poder que responde apenas a si mesmo. Quem protege a democracia com superpoderes institucionais deveria lembrar que todo monstro nasce para combater outro.  Não estamos diante de uma arbitrariedade “do nada”, nem de uma decisão juridicamente impecável acima de qualquer crítica. É uma prisão com base legal e fática real, mas que empurra ao limite a ideia de preventiva e reforça a hipertrofia do STF como ator político. O drama não é Bolsonaro atrás das grades; isso é consequência. O drama é se o Brasil aprenderá a andar sem precisar de um herói togado para segurar a Constituição pela mão. Porque entre o autoritarismo do fuzil e o autoritarismo do voto unânime há apenas diferença de textura — não de ambição. A democracia não pode ser só a vingança elegante dos iluminados contra os brutos. Precisa ser um sistema em que nenhum messias salva, nenhum ministro tutela e nenhum capitão tenta derrubar. Se falharmos nisso, teremos apenas trocado o golpe militar pelo golpe jurisprudencial — e a história, essa velha cínica, continuará nos olhando com a mesma cara: “Outra vez, Brasil?” 

Wagner Gomes – Articulista

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