Um partido contra o sistema — e contra si mesmo

A criação do partido Missão, ligado ao Movimento Brasil Livre, nasce como desafio direto à lógica dominante da política brasileira. Seus dirigentes prometem um partido com ideologia clara, disciplina interna rígida e avesso ao fisiologismo, ao fundo partidário e à dependência de cargos públicos — ambição rara num sistema que abriga quase trinta siglas registradas no Tribunal Superior Eleitoral. O projeto, liderado por Renan Santos (foto: Nilton Fukuda/AE), aposta em centralização programática: o “Livro Amarelo” funciona como catecismo político, acima de conveniências regionais ou alianças locais. A lógica é simples e dura: quem diverge, sai. A expulsão de quadros, como no caso do vereador de Salvador, é apresentada como prova de coerência, não de fraqueza. Aqui ecoa a velha advertência de Norberto Bobbio: a política é virtuosa na teoria e indomável na prática. O Missão tenta resolver o dilema pela via da disciplina quase militar. Pode funcionar no início. O teste real virá quando o ideal colidir com o poder — e o poder, invariavelmente, cobra pedágio.