Flávio Roscoe é presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG)
Composto por nove entidades ligadas aos setores produtivos brasileiros – comércio, agropecuária, transportes, micro/pequenas empresas e indústria –, o Sistema S acaba de ser aprovado pela sociedade brasileira em pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com resultados notáveis, o Sistema S atua prioritariamente nas áreas da educação básica, ensino profissionalizante, saúde e segurança do trabalho e qualidade de vida do trabalhador brasileiro.
Entre os entrevistados que afirmam conhecer bem as instituições, 94% consideram o SENAI, ótimo ou bom; e 93% têm a mesma opinião sobre o SESI.
Mesmo com enorme acervo de realizações e aprovação da população, o Sistema S acaba de se transformar em alvo de ameaças que colocam em risco a sua própria existência. Em nome da necessidade de redução da carga tributária, o ministro Paulo Guedes diz que é “preciso enfiar a faca no Sistema S”. É preciso reduzir a carga de impostos, mas não se pode fazê-lo cometendo equívocos e manipulando informações: os recursos do Sistema S não são impostos e também não são fornecidos pelo governo.
Financiado e mantido com recursos das empresas industriais, o SENAI é um dos cinco maiores complexos de educação profissional do mundo e o maior da América Latina. Em Minas Gerais, são 78 unidades em 63 municípios, o que significa dizer que estamos presentes em todas as regiões do estado. Neste momento, estamos preparando quase 100 mil estudantes para a indústria mineira e brasileira. Somente neste ano, o SENAI-MG formou mais de 55 mil trabalhadores.
O SENAI-MG atua também no campo da inovação e desenvolvimento de tecnologia, com o Sistema de Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo (SITE), que conta com 14 unidades de pesquisa e desenvolvimento voltadas para o atendimento à indústria mineira em diferentes regiões do estado. Faz parte do SITE o Centro de Inovação e Tecnologia (CIT) SENAI/FIEMG, um dos maiores do país, com oito institutos. São cinco de Tecnologia e três de inovação. Também estão no CIT o Laboratório Aberto SENAI FIEMG e o FIEMG Lab 4.0, de apoio ao desenvolvimento de startups.
O SESI apresenta, igualmente, resultados relevantes. Em 2017, foram cerca de 1,6 milhão de matrículas em educação básica regular, educação continuada e educação de jovens e adultos a trabalhadores e dependentes. Mais de 50 mil indústrias foram atendidas com programas de segurança e saúde no trabalho que beneficiaram 4 milhões de pessoas. Em Minas Gerais, o SESI mantém 38 escolas, com mais de 15 mil alunos. No Enem 2017, as escolas SESI-MG se posicionaram entre as de melhor desempenho no país. O SESI-MG também oferece à sociedade cinco centros de cultura, cinco galerias de arte, oito teatros e o Museu de Artes e Ofícios, na capital mineira. Este ano foram atendidos mais de 600 mil espectadores, especialmente trabalhadores da indústria, seus familiares e as comunidades das quais fazem parte. Na área da Saúde e Segurança do Trabalho, o SESI-MG opera 12 unidades, com 448 mil atendimentos este ano.
São preocupantes, portanto, as informações de que o novo governo vai cortar de 30% a 50% dos recursos do Sistema S. Os prejuízos serão gigantescos. A pergunta é: por que começar destruindo instituições de reconhecida importância para a sociedade, aprovadas pelas ações que desenvolvem e que resolvem problemas graves criados exatamente pela ineficiência do governo e sua comprovada vocação para desperdiçar e gastar mal os recursos que toma da sociedade sob a forma de impostos. “Esfaquear” o Sistema S é um duro golpe contra a educação, contra a qualidade de vida do trabalhador e contra a inovação e o desenvolvimento de tecnologia na indústria. Mais adequado seria atuar sobre o tamanho desmesurado do Estado, que o leva a consumir quase 40% do PIB. Além de não fazer o seu dever de casa, o governo atrapalha quem o faz. É isso o que a sociedade brasileira quer?