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Covardia com a população

Paulo César de Oliveira
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Que o ajuste é necessário, ninguém mais tem dúvidas. Até os mais leigos e os ideológicos petistas sabem que, se não houver cortes, e, admita-se, algum aumento de imposto, o país cai no abismo em que está à beira faz tempo. Consensado quanto à necessidade, fica a discussão sobre a forma de fazê-lo. E a melhor maneira, com certeza, não é a que vem propondo o governo que insiste, e até barganha apoios, na aprovação de medidas que atingem diretamente o cidadão. Ou tirar dinheiro da saúde e educação, já neste ano, e promover cortes também no orçamento do próximo ano não é agir contra o cidadão? Governar, dizem, é definir prioridades e administrar a escassez. Se é assim, o governo Dilma, parece, não está conseguindo fazer nem uma coisa, nem outra.
Foi exatamente sobre as prioridades que tinha anunciado, ainda na campanha da reeleição, que aplicou os maiores cortes demonstrando com isto, ainda, que não sabe trabalhar com a escassez. Enquanto havia recursos, fruto de um bom momento da economia mundial, soube distribuir benefícios, conquistando eleitores. Agiu como a cigarra da fábula de Jean de La Fontaine, que cantava na primavera, enquanto a formiga trabalhava, estocando para o inverno. Assim como a cigarra, o governo chega ao inverno das receitas sem caixa para sustentar suas necessidades, cumprir seus programas e promessas.

Penalizou o país pelas bobagens que fez, aumenta esta pena, agora, com os cortes que programa fazer, na tentativa de minorar a crise que criou. E está conseguindo. Conseguindo praticamente inviabilizar ações que são modelo no país, como as desenvolvidas pelo chamado Sistema S, formado por organizações e instituições todas ligadas ao setor produtivo, como indústrias, comércio, agricultura, transporte e cooperativas que têm como objetivo melhorar e promover o bem-estar de seus funcionários, na saúde e no lazer, por exemplo, como também disponibilizar uma boa educação profissional. As instituições do Sistema S (Sesi, Senai, Senac, Sesc, Senar, Sebrae, Sescoop) não são públicas. São mantidas, esclareça-se, com recursos oriundos de contribuições compulsórias do setor produtivo e não por dinheiro tirado do bolso do cidadão contribuinte. Vêm desde 1940, quando o então presidente da CNI, Euvaldo Lodi, sugeriu ao presidente Getúlio Vargas a contribuição do empresariado, o que é feito até hoje.

As entidades do sistema recebem recursos das contribuições parafiscais para prestar serviços de interesse público, com um nível de qualidade muito superior aos oferecidos pelo estado. Quem não conhece, por exemplo, os cursos de capacitação profissional oferecidos por entidades como o Senai, o Sesi e o Senar, ou os cursos altamente disputados oferecidos pelo Sebrae? Pois todos eles estão ameaçados. A tesoura do governo federal quer tirar um naco destes recursos, que se destinariam a educar, profissionalizar e oferecer outros serviços ao trabalhador, para colocar na vala comum, ajudando na formação do superávit da União.

Uma das lideranças engajadas na luta em favor da sustentabilidade do Sistema S, o presidente da Fiemg, Olavo Machado, cobra coerência do governo Dilma na definição das áreas a serem atingidas pelo ajuste, lembrando que o Pronatec, programa de oferta de cursos nas áreas de educação profissional e tecnológica, vitrine da campanha eleitoral da presidente ficará menor, com drástica redução de vagas. Outras milhares de vagas em cursos oferecidos a crianças, jovens e adultos, trabalhadores ou filhos de trabalhadores, serão extintas, inclusive com o fechamento de escolas, por causa das más escolhas nos cortes para viabilizar os ajustes. Não será nada diferente com as áreas de saúde, segurança e educação – atingindo especialmente as universidades – que perderão verbas para que outros setores, que não são prioridades para a população, continuem funcionando. A presidente Dilma e o ministro Joaquim Levy precisam repensar suas propostas. Inviabilizar aquilo que funciona para alimentar aquilo que nada mais é do que desperdício de recursos é covardia com a população.

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