Paulo Rabello de Castro
O Ibovespa apresenta a terceira pior performance, medida em dólares, entre os índices globais das principais bolsas neste ano (ver quadro). O resultado nominal do Ibovespa foi “comido” pela célere desvalorização do dólar, que já subiu 17,4% em 2024. Enquanto isso, empurrando o resultado da renda variável ainda mais para baixo, a taxa de juros parou de cair e empinou, com a curva de juros futuros apontando para uma Selic acima de 13% em 2026, o que significaria o maior juro real entre as principais economias, com abismais 8% sobre o IPCA. São dores típicas de um país financeiramente arrasado, embora o Brasil esteja longe de viver hoje tal situação. O Brasil financeiro sofre dores quase gratuitas, provocadas por uma gestão bizarra dos negócios de Estado.
Enquanto isso, os Estados Unidos têm a 4ª melhor performance em bolsa do mundo neste ano, com alta de 24,2%, e estão apenas iniciando o ciclo de cortes de juros. Os americanos, no entanto, têm a pior situação fiscal da história, com uma dívida que supera US$ 35 trilhões e que continua aumentando rápido. No entanto, os EUA não se queixam de dor fiscal nenhuma. Aproximando-se da eleição mais importante dos últimos mandatos presidenciais desde Ronald Reagan, estarão frente a frente dois candidatos que sequer mencionam o problema fiscal em suas aparições. O Brasil, por seu lado, sofre esta dor e até se menciona o problema, porém a questão fica apenas no discurso, já que o governo promete cumprir o arcabouço fiscal em 2025 sem, até agora, haver apresentado qualquer medida concreta de redução de seus custos operacionais (já que não é possível aumentar ainda mais a arrecadação).
*Economista