Blog do PCO

Moody’s eleva a nota de crédito do Brasil

Paulo César de Oliveira
COMPARTILHE
Paulo Rabello

Paulo Rabello de Castro

A agência de rating Moody’s (EUA) elevou a nota do crédito soberano do Brasil, de Ba2 para Ba1 (grau especulativo, risco mediano, garantias modestas), na sequência imediata de uma “visita explicativa” do presidente Lula aos diretores da agência em NY. A celeridade do anúncio, poucos dias após a visita, surpreendeu quem conhece os delicados mecanismos de atribuição de notas por agências de risco.  A perspectiva  para a nota foi mantida positiva, ou seja, pode subir mais um degrau proximamente, o que elevaria a nota do Brasil, na visão da Moody’s, para o primeiro nível do grau de investimento. O que estariam os analistas dessa agência enxergando que tanta gente não consegue perceber? O desempenho econômico do Brasil surpreende positivamente desde 2022 devido a fatores cíclicos e ao impacto de reformas estruturais. Mas qual seria a exata medida de cada fator?

Seria, afinal, uma melhora em razão de reformas desde a gestão Temer ou mais em decorrência do impulso de gastos públicos altamente deficitários? A agência pondera que a credibilidade do arcabouço fiscal “é moderada”. Mas não explica como Haddad conseguirá fechar um déficit primário hoje superior a 200 bilhões de reais. Outro elemento da análise da Moody’s é o encargo financeiro  “relativamente alto” da dívida interna. Juro real a 6,5% – o maior do planeta – não seria um custo apenas relativamente alto. É um custo exorbitante. A Moody’s não responde a essa questão nem projeta a evolução desses encargos que hoje se aproximam de 1 trilhão de reais! Contudo, a agência de risco americana conclui, sem qualquer modelo de projeção, que a dívida interna deve se estabilizar no médio prazo, mesmo que num nível elevado. Não nos parece um estudo cuidadoso nem baseado em premissas razoáveis.

Alguém poderia reparar também que a decisão da Moody’s chega trombando com a declaração do presidente do BC, Campos Neto que, ainda nessa semana, mencionou em palestra a necessidade de um “choque fiscal positivo” mais à frente, se o Brasil quiser evitar novas rodadas de altas de juros. Causa estranheza essa elevação de nota  com os indicadores fiscais atuais e projetados. Mais ainda: parece surreal a perspectiva positiva da nota, acenando com um grau de investimento para breve, quem sabe ainda neste mandato de Lula. A perspectiva de um expressivo déficit fiscal primário se mantém, apesar de o ministro da Fazenda continuar a afirmar que será zerado no próximo ano.  Nenhuma medida de equilíbrio estrutural, com cortes permanentes de despesa, foi realizada. Ao contrário, as despesas continuam crescendo acima das receitas correntes e, estas, correndo acima da expansão do PIB. É de se questionar a origem de tanto otimismo dessa agência. Terá sido pela solidez das explicações de Lula em NY? O presidente deve ter sido muito persuasivo em seus argumentos.

COMPARTILHE

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

News do PCO

Preencha seus dados e receba nossa news diariamente pelo seu e-mail.