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O cheiro do clima: a viesada das pesquisas eleitorais 

Paulo César de Oliveira
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Wagner Gomes 

No Brasil, onde a polarização social e política se encontra em um nível elevado, as pesquisas eleitorais têm sido fortemente politizadas. Em vez de serem vistas como ferramentas neutras de aferição de tendências, seus resultados são frequentemente apropriados por diferentes lados do espectro político, exacerbando a desconfiança geral em relação à sua validade. Com a chegada das eleições, os institutos de pesquisa intensificam suas publicações. No entanto, essas novas abordagens não se concentram apenas nas preferências dos eleitores, mas sim em avaliar o percentual daqueles que ainda não decidiram em quem votar.  Essa mudança de foco, no entanto, parece ter um objetivo claro: antecipar justificativas para as discrepâncias que certamente surgirão entre os resultados das urnas e os números que essas pesquisas vêm apresentando. A credibilidade das pesquisas eleitorais, outrora respeitada, tem sido alvo de crescente desconfiança, fazendo com que, em momentos decisivos, essas pesquisas busquem uma aproximação maior com a realidade para tentar resgatar sua imagem. Entretanto, o curto intervalo até as eleições inviabiliza qualquer análise aprofundada do cenário, o que as torna mais uma manobra de correção do que uma previsão acurada. O dado de que cerca de 40% do eleitorado permanece indeciso será utilizado como argumento para justificar mudanças repentinas nas tendências apresentadas. Esse contingente expressivo de indecisos é convenientemente mobilizado para dar suporte a variações que, de outra forma, poderiam evidenciar a falta de precisão ou até a manipulação nos levantamentos prévios. A crescente percepção de que as pesquisas eleitorais se tornaram mais uma ferramenta de manipulação do cenário político do que um espelho fiel da opinião pública impacta não só as estratégias dos candidatos, mas também a confiança dos eleitores. Há, ainda, suspeitas de que interesses econômicos, especialmente ligados à grande mídia, possam estar influenciando a divulgação e interpretação dos dados. Nesse contexto, as pesquisas perdem seu papel de guia democrático e passam a alimentar a volatilidade política, tornando-se cada vez mais questionáveis e reféns de conveniências externas. Em um ambiente já saturado de tensões políticas, essa imprecisão reforça teorias de manipulação e desconfiança, e acabam, em muitos casos, fomentando ainda mais a confusão e o ceticismo. Ao final, os vários institutos de pesquisa acabam se ancorando num dogma quase religioso: mesmo quando erram feio, é impossível provar que as pesquisas estivessem erradas no dia do levantamento. Também não dá para provar que estivessem certas. É uma questão de ter fé nisso… 

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