Paulo César de Oliveira – jornalista e empresário
Já estamos no ano da esperança. Esperança que aliás, é uma marca do brasileiro. Tanto que virou profissão, consagrada no musical “Brasileiro, profissão esperança”, lá da década de 1970. No ano passado, o profissional da esperança voltou às urnas buscando dias melhores, depois de tanta bagunça, institucional, política e econômica fruto, é bom não esquecer, do fracasso de uma outra esperança que embalou os sonhos do povo durante longos anos, até ser apeada do Poder. A frustração impulsionou a esperança novamente. E ela veio acompanhada de um vendaval de mudanças que atingiu o país. As urnas provocaram a maior renovação da história do Senado, tomando o mandato de 85% dos que tentaram a reeleição. Na Câmara Federal a mudança chegou a 47%, a maior dos últimos vinte anos. Não foi diferente nas Assembleias Legislativas, nem nas disputas para os governos estaduais. O símbolo desta mudança é, sem dúvida, o presidente Jair Bolsonaro. Ele encarna o desejo de uma maioria da população que exige, não apenas sonha, mudanças. Mesmo aqueles que não votaram nele, e que não são petistas radicais, confiam que ele vai liderar um processo de transformação do país. Todos que querem o bem comum precisam estar comprometidos com este projeto. Sem adesismos cegos, sem alinhamentos automáticos. Mas também sem radicalismos contrários, sem oposição por oposição. Quem diverge de nossas convicções não é inimigo. É alguém que precisa ser convencido ou, se necessário derrotado, não destruído. Tivemos momentos de radicalismo exacerbado nas últimas eleições. Isto não pode seguir adiante. É hora de descer do palanque, é hora de compreender a importância do diálogo. Não se deve buscar a unanimidade que, diz o grande Nelson Rodrigues, é sempre burra. Mas não podemos abrir mão da busca do consenso. Tudo o que é construído desta forma, é duradouro. O que é imposto tem vida curta. Não podemos nos esquecer de que o Poder é transitório. Soluções construídas com autoritarismo são desfeitas nas mudanças de plantão dos governantes. Chega de voos de galinha. De políticas impostas para agradar grupos. Já sofremos muito, muitas empresas passaram apertadas os últimos anos por causa deste tipo de política. O desemprego subiu a níveis que o Brasil jamais tinha visto, atingindo mais de 13 milhões de brasileiros. Em nome de mudanças, destruímos o que mal começávamos construir. Bolsonaro tem consciência de que os seus milhões de votos foram para mudar o país. Talvez até mais do que simplesmente mudar. Melhor seria dizer reconstruir o país. Reconstruir a partir de um projeto que ainda está sendo elaborado. O que se vendeu aos eleitores foi uma ideia que acabou consagrada. A partir dela é que se começou a construir o projeto que, por não estar ainda concluído, deixa de entrar hoje no Planalto junto com o presidente. Bolsonaro tem, a partir de hoje, a esperança do povo e a autoridade do cargo a sustentar seus atos e suas propostas. Evidente que os radicais estão atentos e dispostos a atrapalhar. Que o presidente não siga o caminho do confronto extremado. A torcida é para que ele seja firme, mas não radical como alguns de sua equipe. Que saiba exercer a liderança antes da autoridade. E que se conscientize de que não governará sozinho, que vai precisar especialmente do apoio do Congresso onde, apesar da grande renovação, a prática do toma-lá-dá-cá ainda será a regra. Uma regra a ser superada com o apoio popular, não com a força. Que Bolsonaro consiga controlar seus próprios rompantes e até o delírio de alguns de seus auxiliares. O povo mais do que confia, o povo precisa do sucesso de seu governo. E ele assume o comando do país com um enorme capital político: a confiança do povo e o otimismo do capital. Tem tudo para dar certo. Vai dar certo.